A vida, no fundo, é uma sucessão de encontros e despedidas. A cada ciclo que se encerra, deixamos algo — ou alguém — para trás. Algumas partidas doem menos, outras nos dilaceram. Mas todas nos moldam. Somos feitos dessas perdas, dessas ausências que se acumulam devagar, ocupando espaços onde antes havia presença.
Há despedidas que escolhemos. Porque já não fazia sentido. Porque era preciso ir, crescer, respirar. Outras nos são impostas — e, mesmo tentando entender, o que resta é aceitação. Às vezes, deixamos ir por amor, por respeito, por compreender que o outro precisava seguir outro caminho. E, mesmo com o coração em pedaços, a gente sorri, deseja o bem e finge que está tudo bem.
Mas há as despedidas que a vida tira da nossa mão. Aqueles “adeuses” que não estavam no roteiro. Um acidente, uma doença, um último abraço que a gente nem sabia que era o último. E o pior de todos: a morte. Ela leva sem pedir permissão. Sem tempo para uma explicação, sem chance de refazer conversas ou pendurar um “eu te amo” que ficou para depois.
E aí ficam as roupas guardadas, os cheiros espalhados pela casa, as fotos que a gente não consegue apagar. Ficam os aniversários com um lugar vazio à mesa. Ficam as palavras que não dissemos e as que gostaríamos de ter ouvido.
Tantos “adeuses” ditos em voz alta, alguns em silêncio… e um, em especial, que o nosso coração nunca aceitou. Aquele que, por mais tempo que passe, segue doendo. Porque tem ausência que não se cura, só se aprende a conviver.
Mas ainda assim seguimos. Porque, entre uma despedida e outra, a vida insiste em nos dar reencontros. Novos amores, novas amizades, novos motivos para sorrir. E é isso que nos mantém vivos: a esperança de que, apesar de tantas partidas, ainda há chegadas esperando pela gente.
Somos uma coleção de despedidas, é verdade. Mas também somos feitos da coragem de seguir — mesmo com o coração remendado.
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