Ninguém nasceu se envergonhando do próprio corpo. Ninguém nasceu achando que sentir prazer era errado. Ninguém veio ao mundo com medo de falar, de desejar, de ser. Isso tudo foi ensinado. Imprimido. Molde após molde, geração após geração.
Fomos domesticados — com palavras bonitas, com ameaças sutis, com “isso não é coisa de moça”, com “homem de verdade não chora”, com silêncios impostos. Aprendemos que sentir era fraqueza, que desejar era pecado, que dizer o que se pensa podia custar o amor do outro. E assim fomos nos apertando em formas que não nos cabiam.
A religião veio ditando o que era certo ou errado para os corpos — especialmente os femininos. A medicina, por muito tempo, tratou o prazer como desvio, como sintoma, como doença. O poder, então, entendeu que quanto mais medo, mais controle. E quanto mais controle, menos liberdade.
Nos fizeram acreditar que obedecer era nobre, que recuar era virtude, que negar a si mesma era sinal de pureza. Mas a verdade é que isso tudo só serviu para nos afastar da nossa natureza mais essencial: o direito de ser inteira. De habitar o corpo com presença. De desejar sem culpa. De dizer “sim” sem medo e “não” sem explicações.
E é por isso que libertar-se é um trabalho diário. Um recomeço constante. Porque ninguém nasceu assim — mas podemos, sim, escolher renascer. Com novas verdades. Com novos limites. Com o corpo, a voz e o prazer como territórios livres.
A cura começa quando a gente questiona. Quando se olha no espelho e se pergunta: o que, de tudo que sinto, é realmente meu? E o que foi colocado em mim para me calar?
Porque viver em paz consigo mesma não é rebeldia — é resistência.
Receba outras colunas direto em seu WhatsApp. Clique aqui.