Fim de ano chega, e com ele as famosas confraternizações. Época de mesas fartas, brindes altos e um turbilhão de sentimentos. Aparentemente, o objetivo é simples: celebrar. Mas, no fundo, essas reuniões são verdadeiros retratos das relações humanas — um misto de sinceridade e aparências, de abraços apertados e sorrisos calculados.
A comida nunca falta. Mesas recheadas de pratos que carregam memórias: o salpicão que lembra a infância, o pernil que ninguém sabe quem preparou, mas todo mundo come, e, claro, o bolo que sempre sobra. É um banquete que nutre mais as tradições do que a fome, porque, convenhamos, ninguém vai a essas festas apenas para comer.
E a bebida? Ah, a bebida é o tempero dos discursos mais honestos e das confissões inesperadas. Entre uma taça e outra, alguém fala demais, alguém ri alto demais, e alguém decide que é o momento perfeito para desenterrar um ressentimento de anos atrás. O álcool, esse facilitador de emoções, também traz à tona o que muitos preferem esconder: as pontes quebradas que o “espírito natalino” tenta maquiar.
Mas há algo mágico nas confraternizações. Entre o barulho dos talheres e os brindes repetidos, encontramos gestos de carinho genuínos. Amizades verdadeiras brilham como luzes piscando na árvore de Natal. Porém, as falsidades também aparecem — aquele sorriso falso, a conversa cheia de elogios forçados e a sensação de que alguns estão ali apenas porque “é o que se espera”.
Os excessos também fazem parte da festa. Comer até não conseguir se mover, beber até a língua enrolar e, pior, falar sem filtros. As confraternizações têm o estranho poder de mostrar o melhor e o pior de cada um. É preciso cuidado para que o excesso de sinceridade ou de indulgência não transforme celebrações em arrependimentos.
No final, as confraternizações de fim de ano são espelhos. Mostram como vivemos, como nos conectamos e, às vezes, como nos suportamos. São encontros que nos lembram que, apesar das diferenças, seguimos tentando. Porque, no fundo, todos buscamos o mesmo: terminar o ano acreditando que fizemos parte de algo maior, nem que seja de um brinde coletivo que soa como um pedido silencioso de paz e felicidade para o ano que está por vir.
Então, brinde, mas com moderação. Celebre, mas com sinceridade. E, acima de tudo, aproveite, porque, apesar de todas as imperfeições, as confraternizações de fim de ano nos fazem sentir humanos — e isso, por si só, já é um grande presente.
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