Desde o berço, as meninas aprendem que o mundo tem suas etiquetas. Se é menina, furamos as orelhas, vestimos de rosa e presenteamos com bonecas e panelinhas. Se é menino, damos carrinhos, bolas e um mundo inteiro para explorar. Sem perceber, traçamos o caminho que eles seguirão: elas, cuidando; eles, conquistando.
Mas por que, ainda hoje, insistimos em educar de forma tão diferente? Afinal, um fogão de brinquedo não cozinha de verdade, mas ensina. Ensina que cuidar da casa é um “papel feminino”, que brincar de mãe é algo natural para as meninas, enquanto os meninos são afastados dessas responsabilidades desde pequenos.
E assim, a menina cresce carregando a expectativa de ser boa dona de casa, boa mãe, boa esposa. O menino, por outro lado, cresce acreditando que não precisa saber trocar uma fralda, lavar um prato ou sequer entender como se faz arroz. Criamos adultos que chegam ao casamento com funções bem definidas — mas com uma carga desigual que sufoca um e exime o outro.
Essa divisão começa antes mesmo das palavras. Na maternidade, furar as orelhas de uma menina é quase uma tradição inquestionável. “É para saberem que é menina”, dizem. Mas será que precisamos marcar seus corpos tão cedo? Será que o que importa não é o que ela é, mas o que ela parece?
Aos meninos, por outro lado, negamos a sensibilidade. “Homem não chora”, repetimos, enquanto tiramos deles a chance de brincar de cuidar, de sentir, de acolher. Criamos homens que, muitas vezes, não sabem ser pais presentes ou maridos parceiros porque isso nunca foi parte da brincadeira deles.
A pergunta que fica é: por que não educamos todos para a vida, em vez de para papéis? Por que as meninas não podem brincar de aventuras e os meninos de cuidar? Por que as cores precisam separar tanto?
Talvez seja hora de oferecer mais do que rosas e azuis. Talvez seja hora de ensinar que cuidar da casa é para todos, que brincar é livre, que sensibilidade não tem gênero. Porque educar é libertar, e nada é mais poderoso do que crianças que crescem sendo quem realmente são, sem as amarras de um mundo que ainda insiste em pintá-las com cores tão limitadas.
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