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O amor não tem rodinhas

19/12/2024 06h50

Dizem que andar de bicicleta é algo que não se esquece, mas amar, ah, amar é outra história. Amar é como tocar violino: precisa de prática, entrega, ouvido atento. É como cozinhar no fogo baixo, sem receita fixa. Namorar, como Fabrício Carpinejar bem disse, não é como pedalar. Você pode, sim, desaprender.


E quer saber? Ainda bem.


A gente desaprende porque esquece que o amor não é automático. Porque às vezes confundimos amor com posse, ou cuidado com controle. Porque, em um mundo de tudo imediato, esquecemos que amar requer demora. Não demora de relógio, mas demora de pele, de olhos que não desviam, de perguntas que não têm pressa de respostas.


Namorar é reaprender o outro e, antes disso, a si mesmo. Se você parar de praticar, o corpo desaprende a inclinar-se para o lado certo, perde o equilíbrio entre dar e receber. Fica duro, rígido, inflexível. E o amor, como pedalar, depende do movimento.


Tem gente que desaprende porque tem medo de cair. Quem já levou tombos no coração sabe como é: o primeiro impacto na alma deixa cicatrizes difíceis de curar. Aí a gente se arma de medo e desaprende a leveza. Começa a pensar demais. Cada pedalada vira uma conta. Será que vai dar certo? Será que ele me ama mesmo? Será que eu mereço? E o amor, que é feito de asas e não de pesos, se perde nessa matemática.


Mas o pior de tudo é quando desaprendemos porque paramos de tentar. Guardamos a bicicleta no porão das desilusões e decretamos: “nunca mais”. Passamos a amar com cautela, como quem anda com rodinhas laterais, achando que assim o coração estará seguro. Só que rodinhas não salvam da queda, apenas limitam o voo.


Namorar exige treino. Não para ser perfeito, mas para ser presente. Treinar a escuta, a paciência, o elogio no meio do caos. Treinar o toque inesperado, a mensagem fora de hora, o perdão que não pede explicações. Amar é uma habilidade que precisa de suor, mas também de vento no rosto.


E se desaprendemos, tudo bem. Sempre dá para subir na bicicleta outra vez. O segredo está em não desistir de pedalar junto, mesmo quando o terreno é cheio de pedras. Afinal, o amor só se mantém em movimento.


E você, ainda está pedalando ou deixou a bicicleta encostada?


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SIBÉLE CRISTINA
Coluna atualizada de segunda a sexta-feira
Sibéle Cristina Garcia é apresentadora do programa Mais Mulher na UniTVSC desde maio de 2008. Graduada em Pedagogia e Marketing. Pós-graduada em Sexualidade Humana e Sexologia. É especialista em Relacionamento Abusivo, comunicadora, terapeuta e encorajadora da liberdade feminina.
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