Faltam poucos dias para o Natal. Enquanto muitos contam os dias para luzes, abraços e sorrisos, outras mulheres contam os minutos, mas não por expectativa, e sim por temor. Para elas, a ceia não é sinônimo de paz, mas de tensão. É o momento em que os rostos sorridentes à mesa escondem a guerra silenciosa que se desenrola no coração delas.
O que deveria ser um dia de celebração muitas vezes se transforma em um cenário de pesadelos. O tilintar das taças que brindam à saúde pode ser interrompido pelo som de vozes exaltadas. A bebida, que deveria trazer leveza, frequentemente se transforma em catalisador de brigas, humilhações e violências que escalam ao longo da noite.
Essas mulheres não estão contando quantos presentes irão desembrulhar. Elas estão contando passos, gestos e olhares. Cada movimento da festa é um termômetro para prever quando e como a tempestade vai chegar.
A sociedade pinta o Natal como o ápice da harmonia, mas o que fazemos com as vozes que ficam caladas nesse dia? Com as mulheres que são invisibilizadas em seu sofrimento, porque o mundo prefere acreditar na fachada de “família feliz”?
Para muitas delas, o Natal não traz alívio, apenas prolonga o fardo. É mais um capítulo de um ciclo que parece não ter fim. O jantar vira palco de obrigações: cozinhar, servir, mediar. Tudo para evitar que o inevitável aconteça. No entanto, a culpa sempre recai sobre elas — não por serem a causa, mas por não conseguirem evitar o que nunca esteve sob seu controle.
Enquanto celebramos, precisamos lembrar dessas mulheres. Precisamos entender que o Natal não será igual para todas. E mais do que isso: é essencial agir. Falar sobre violência doméstica não estraga a festa, mas pode salvar uma vida.
Que neste Natal, a paz chegue não apenas às mesas, mas aos corações que carregam o peso de batalhas silenciosas. Que as mulheres que vivem nesse ciclo de medo encontrem força e apoio para quebrá-lo. E que, um dia, o Natal possa ser sinônimo de esperança e renascimento para todas elas, como deveria ser.
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