Escrevo com frequência há dezesseis anos. Ando de bicicleta, com a mesma determinação, há quase dez. São dois tipos de esforço: um físico, outro mental.
Considerando a minha experiência, posso garantir a vocês: pedalar cinquenta quilômetros cansa menos do que escrever uma crônica de cinco parágrafos. O esforço mental necessário para a criação consome mais energia do que o esforço físico que preciso imprimir durante a escalada de uma montanha. Por isso, é tão raro encontrar alguém com disposição para escrever com regularidade.
Nos últimos dias, tenho me sentido desanimado. E não é por causa do cansaço. Faço isso há tanto tempo que já me adaptei às dificuldades, ao desgaste mental exigido. O que tem me feito perder a vontade de continuar é ver gente que nunca escreveu uma linha sequer, de repente virar colunista de jornal ou autor de livro, sem passar pelo processo de aprendizado necessário, sem o esforço de escrever e reescrever diversas vezes para aprimorar e desenvolver um estilo próprio.
Refiro-me a pessoas que usam inteligência artificial para produzir textos inteiros, construídos por essa entidade anônima e abstrata que entrega ideias prontas, sem cobrar direitos autorais. Esse caminho fácil desvaloriza o esforço de quem escreve a partir dos próprios pensamentos.
Pessoas que sempre precisaram “esquentar a cabeça” para organizar ideias e colocá-las no papel agora são jogadas no mesmo balaio dos pseudoescritores, que usam um cérebro artificial para pensar e criar por elas.
Os tempos são outros. A inteligência artificial veio para ficar. É benéfica se for usada com cautela. Mas assim como nas carteiras de cigarros, que trazem um alerta de risco de câncer para os usuários, o uso indevido da IA devia trazer um alerta: “o uso indevido dessa ferramenta pode causar empobrecimento mental e criativo.”
É desanimador ver que, enquanto uns gastam tempo e se esforçam para elaborar o que vão escrever, outros apenas apertam o botão de “enter”.
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