Mesmo com protestos, pacote é aprovado por mercado
Dez dias depois de ser empossado, o governo do presidente argentino Alberto Fernández conseguiu, na madrugada deste sábado, a aprovação, no Congresso Nacional, do seu primeiro pacote econômico.
A iniciativa recebeu respaldo do setor financeiro, mas gerou críticas das classes média e alta do país e da oposição por gerar impostos, por exemplo, para a compra de divisas, para o setor agrário e pelo congelamento temporário das aposentadorias.
No mercado financeiro, o otimismo levou o índice Merval, da Bolsa de Buenos Aires, a subir a partir de quarta-feira, quando o projeto da lei chegou à Câmara dos Deputados. O índice terminou a semana em alta de 1,44%, enquanto os bônus em pesos aumentaram cerca de 40% e os títulos em dólares ganharam mais de 16%, diante da expectativa de ajuste fiscal e de negociação da dívida do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com setores que investiram nos títulos argentinos.
Durante a semana, a chamada taxa de risco país, que mede a confiança internacional num país, recuou, sinalizando a simpatia do mercado em relação ao pacote de medidas, como afirmou o economista Orlando Ferreres, em entrevista à BBC News Brasil.
A expectativa de ajuste fiscal, num país que tem déficit em suas contas, gerou a onda de otimismo, que, no entanto, acabou a semana sendo absorvida com ressalvas pelo mercado financeiro.
"É um pacote que tem duas perspectivas. Ele caiu bem no exterior porque é uma lei que busca equilibrar a questão fiscal e afasta a preocupação de que o governo de Alberto Fernández seria um governo tipicamente kirchnerista (com aversão aos mercados e com gasto público alto). Mas afeta diretamente as classes médias, principalmente", disse Ferreres.
Na sua visão, o pacote, como comentou publicamente o próprio presidente Alberto Fernández, teria tido o respaldo inicial do Fundo Monetário Internacional (FMI), com quem a Argentina tem uma dívida bilionária.
Pelos cálculos da consultoria econômica Quantum, de Buenos Aires, o pacote econômico do novo governo argentino poderia levar o país a sair do déficit de cerca de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB), de 2019, para um superávit de 0,6% em 2020, o que justificaria o otimismo do mercado.
Mas a decisão do governo de adiar, por decreto, até 31 de agosto o pagamento de quase US$ 9 bilhões de um título específico - letras do Tesouro (letes) de curto prazo - levou a agência de riscos Fitch a colocar o país, na sexta-feira, no patamar de "default restringido" por "não cumprir seus compromissos soberanos".
Algumas destas letras, em dólares, que deveriam ser pagas em fevereiro, caíram mais de 30%, segundo analistas financeiros. E alguns outros títulos em dólares também recuaram na sexta-feira. Houve outras ressalvas do setor financeiro.
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O economista Fausto Spotorno disse que o problema do ajuste fiscal é que ele vai "pesar principalmente" para o setor privado, e não para o setor público.