Dona Fátima de Tubarão está presa; a empresária Camila Marques e o caminhoneiro Joel Correa cumprem medidas cautelares
Faz exatamente um ano que o Brasil parou atônito em frente à TV. Logo nas primeiras horas da tarde de 8 de janeiro de 2023 as imagens tomaram a programação de todas as emissoras: uma turba desgovernada avançou do Quartel-General do Exército rumo à sede dos Três Poderes, em Brasília.
Sem obstáculos, facilmente invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes na Capital Federal: os imponentes prédios do Supremo Tribunal Federal, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.
Em Tubarão não demoraria para que a tela da TV ganhasse concorrência. Logo surgiram nos celulares as primeiras imagens com moradores da cidade como protagonistas. Três tubaronenses foram presos e se tornaram réus: Camila Mendonça Marques, Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza e Joel Borges Correa.
Nenhum deles mostrou preocupação com as provas que produziam contra si próprios, em uma invasão que trazia palavras de ordem golpistas. O Sul Agora conta as histórias de Camila, Fátima e Joel nos últimos 12 meses. E como elas ajudam a entender as consequências do dia 8 de janeiro de 2023.
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Camila Mendonça Marques
Filmar a si mesma em atos golpistas e publicar nas redes sociais foi uma decisão que Camila tomou no dia 8 de janeiro de 2023. Ela foi presa em flagrante no interior do prédio do Palácio do Planalto, ainda no dia 8, e levada à Penitenciária Feminina do Distrito Federal, conhecida como Colmeia.
No processo, foi narrado que ela “insuflou a massa a avançar contra as sedes do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, destruiu e concorreu para a destruição, inutilização e deterioração de patrimônio da União, fazendo-o com violência à pessoa e grave ameaça, emprego de substância inflamável e gerando prejuízo considerável”.
Permaneceu na prisão até 8 de março, quando ganhou a liberdade exatamente dois meses depois da sua prisão. Sob a alegação de que precisava cuidar de seus filhos e de que sofre de uma doença grave, obteve liberdade provisória com medidas cautelares, como a proibição de usar redes sociais e o uso de tornozeleira eletrônica.
Camila é ré e aguarda julgamento por associação criminosa armada (artigo 288, parágrafo único do Código Penal), abolição violenta do estado democrático de direito (artigo 359-L), golpe de estado (artigo 359-M), dano qualificado (artigo 163, parágrafo único, incisos I, II, III e IV) e deterioração de patrimônio tombado (artigo 62, inciso I, da Lei 9.605/1998).
Além disso, enfrenta um processo movido por sua sócia para que se abstenha de citar a empresa, cujo logotipo estava estampado no boné que usava no dia da invasão a Brasília. A sócia também quer a sua exclusão do quadro societário.
Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza
“Dona Fátima” e “Fátima de Tubarão” são os mais singelos dos apelidos que a senhora tubaronense de 68 anos passou a ostentar de um ano para cá. A maioria deles é impublicável, mas fazem referência ao vídeo em que ela informa que havia defecado na sede do STF, antes de emendar uma ameaça ao ministro Alexandre de Moraes: “agora vamos pegar o Xandão”.
Fátima não estava filmando a si própria e nem voltou ao acampamento do QG do Exército. Retornou a Tubarão, mas sua participação de menos de dez segundos em uma das inúmeras lives feitas naquela tarde lhe rendeu uma notoriedade que lhe custaria caro.
A viralização de vídeos do 8 de janeiro no TikTok e Facebook em que aparece, além de fotos registradas por ela na invasão ao STF, acabaram virando as principais provas da Polícia Federal para incriminar a idosa.
A PF veio a Tubarão prendê-la no dia 27 de janeiro e desde então ela está detida. O fato de ter uma condenação em 2014 por tráfico de drogas com envolvimento de um menor de idade, que realizava entregas de pedras de crack, pesou para que não obtivesse liberdade provisória.
Presa em uma unidade prisional de Criciúma, aguarda o julgamento pelas mesmas acusações às quais Camila responde: associação criminosa, abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado, ameaça, perseguição, incitação ao crime, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Ainda sem sentença, Fátima foi eternizada em memes e já se perdeu a conta de piadas no YouTube sobre a sua fatídica frase.
Joel Borges Correa
Há pouca informação sobre Joel Borges Correa, nem imagens disponíveis. O Sul Agora apurou com exclusividade que ele é um caminhoneiro autônomo, que mora em Tubarão e também foi preso em flagrante, no dia 8/1, em situação semelhante à de Camila.
Foi concedida a ele liberdade provisória em 8 de agosto de 2023, com as mesmas medidas cautelares impostas à empresária tubaronense.
Sua defesa pediu recentemente a flexibilização das medidas cautelares, em função da sua profissão de caminhoneiro. Ele pretendia estender a área de monitoramento para todo o Estado, alegando que é motorista de caminhão de carga, a fim de permitir que ele possa trabalhar.
O pedido foi negado pelo ministro Alexandre de Moraes em 14/12, que alegou na decisão que "cabe ao requerente adequar suas atividades às medidas cautelares, e não o contrário".
O ministro também afirmou que a extensão do perímetro tornaria ineficaz a aplicação das medidas cautelares, pois representaria uma permissão quase irrestrita de deslocamento.
Joel aguarda o julgamento do processo.
Condenações
Até o momento, 30 pessoas foram condenadas pelo evento do dia 8/1, entre elas três catarinenses, por crimes como associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e deterioração de patrimônio tombado.
As penas dos condenados variam entre 3 a 17 anos de prisão. Os três catarinenses foram condenados a cumprir, cada um deles, 16 anos e meio de prisão.
O Sul Agora não conseguiu contato com a defesa dos citados nesta reportagem. O espaço está aberto para manifestação, caso haja interesse.
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