No total, 14 pessoas, entre candidatos a vereador, empresários, um policial e outros foram indiciados
Nos últimos dias, a Delegacia de Investigações Criminais (DIC) de Laguna elucidou um esquema organizado de corrupção eleitoral nas eleições municipais de 2024.
De acordo com a corporação, a investigação foi uma das mais complexas já realizadas pela unidade, resultando em um inquérito com aproximadamente 5.000 páginas de evidências técnicas e testemunhais.
Por questões legais, todos os nomes dos indiciados foram suprimidos da divulgação. Durante meses de investigação, a equipe da DIC Laguna ouviu 70 pessoas, realizou análise técnica de múltiplos aparelhos telefônicos, examinou relatórios de inteligência financeira e apurou 55 possíveis crimes eleitorais e conexos.
O trabalho técnico permitiu identificar uma estrutura organizada em três eixos complementares que operavam de forma coordenada.
Financeiro
O eixo financeiro da organização movimentou mais de R$ 1,7 milhão durante o período eleitoral, com transferências bancárias entre empresas e pessoas físicas sem justificativa comercial aparente.
A investigação constatou que um empresário realizou transferências que totalizaram R$ 734.964,24 para diferentes contas vinculadas ao esquema.
Um aspecto crítico revelado pela análise financeira foi a incompatibilidade patrimonial de até 17.432% entre rendas declaradas e valores movimentados por alguns dos investigados.
Em um caso específico, uma pessoa responsável pela parte jurídica da campanha declarou apenas R$ 2.600,00 à Justiça Eleitoral, quando na realidade movimentou R$ 302.540,00 no mesmo período.
Compra de votos
O segundo eixo, de natureza operacional, caracterizou-se pela distribuição organizada de recursos em espécie e utilização de imóveis particulares como centros de operações.
Os investigados elaboraram uma listagem com variados nomes de eleitores e empregaram técnicas de "smurfing" para evitar a fiscalização dos órgãos de controle, realizando saques de R$ 49.000,00, estrategicamente mantidos abaixo do limite de R$ 50.000,00 que exigiria comunicação obrigatória.
As mensagens recuperadas dos aparelhos celulares apreendidos continham conteúdo inequívoco relacionado à captação ilícita de votos.
Materiais e favores em trocas de votos
O terceiro eixo, de caráter material, operacionalizava a entrega de vantagens aos eleitores. Foi identificada a utilização de um caminhão para transporte e entrega de materiais de construção, incluindo aterro, brita e areia para residências específicas.
O esquema também incluía o fornecimento de vales de alimentação que totalizaram aproximadamente R$ 6.000,00 através de um estabelecimento comercial local, além de promessas de serviços públicos como conserto de iluminação em determinadas localidades.
Indiciamentos
Após a conclusão da investigação, a DIC Laguna indiciou 14 pessoas pelos crimes de corrupção eleitoral (art. 299 do Código Eleitoral), associação criminosa, e falsidade ideológica eleitoral (“caixa 2”).
Entre os indiciados estão um empresário do ramo imobiliário e de mineração, um policial militar da ativa (lotado na capital), um advogado com atuação na área eleitoral, um candidato a cargo no executivo municipal, um servidor público estadual, uma funcionária de estabelecimento lotérico, um motorista e diversos candidatos a vereador.
O inquérito policial agora será encaminhado ao Ministério Público Eleitoral para as providências legais cabíveis.
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