Em minhas constantes pedaladas pelas estradas de chão batido que serpenteiam entre morros e colinas da nossa bela região, muitas vezes deparo-me com terras de rara beleza. Nesta semana não foi diferente.
Ao subir por um caminho até então desconhecido, alcancei um lugar quase inabitado, silencioso e encantador. Lá do alto, de um ponto descampado, vi um casal de tucanos descansando em uma árvore; avistei o costão da Serra do Rio do Rastro, o mar, a lagoa de Santo Antônio e pequenas comunidades espalhadas no horizonte. Qualquer descrição que eu faça não é capaz de revelar a imensidão do que vi.
Há quem pense que isso é delírio, que tamanha beleza natural não existe por aqui. Normal. Já não me surpreende a cegueira de pessoas que caminham pelo mundo com os olhos acostumados, tapados para as riquezas visuais ao redor. Só percebe a riqueza que está diante de si quem compreende a natureza como uma obra de arte, que só se revela a quem a contempla com olhar de ineditismo e espanto.
Não revelarei onde fica. Não é egoísmo, é prevenção de quem já viu tantas maravilhas da natureza perderem o brilho diante da pressa modificadora dos homens. Os anos me ensinaram algo interessante: lugar feio não existe. A feiura nasce quando nossas mãos alteram a essência da terra. E, como muitos desejam possuir um pedacinho de beleza apenas para si, não quero ser responsável por provocar migrações que possam apagar o que meus olhos viram.
Continuarei minhas pedaladas por aí, observando com olhar de menino que vê pela primeira vez e se surpreende com as coisas mais simples. Quem quiser experimentar esse sentimento deve andar pelo mundo carregando no peito um coração infantil. Ah, e há algo óbvio que sempre relembro e considero valioso dividir: a vida é curta, mas a terra é eterna.
Daqui a cem anos, todos nós que hoje habitamos esta terra já não estaremos aqui. Sendo assim, é fundamental preservar o planeta para que os que ainda não nasceram também possam desfrutar da beleza natural que hoje me encanta.