Queda de prédio deixou quatro mortos e 12 feridos
Na manhã de quarta-feira, 10 de agosto de 2005, o desabamento do prédio dos Correios, no Centro de Içara, mobilizou equipes de resgate e deixou a cidade em choque. A estrutura veio abaixo no início do expediente, prendendo funcionários e clientes sob os escombros.
Equipes do Corpo de Bombeiros Militar de SC (CBMSC) retiraram 12 vítimas com vida ao longo do dia, algumas com ferimentos leves e outras com fraturas e esmagamento de membros. A última sobrevivente foi resgatada por volta das 15h10. Três corpos foram encontrados no mesmo dia, sendo o último retirado às 16h30. Ainda restava localizar um idoso desaparecido.
Durante a madrugada do dia 11, por volta de 1h30, sinais de um novo colapso interromperam os trabalhos. Para garantir a segurança das equipes e permitir o acesso ao subsolo e ao térreo, foi necessária a demolição das partes superiores que ainda permaneciam de pé.
Somente na manhã de 12 de agosto, às 8h20, o corpo da última vítima foi encontrado. O resgate contou com o apoio de materiais e equipamentos do CBMSC, da Prefeitura de Içara e de empresas privadas.
“O acesso era extremamente difícil, pois as portas e janelas do térreo, do primeiro andar e de todo o subsolo estavam bloqueadas pelos escombros. Foi necessário arrombar paredes e lajes para criar entradas. A laje do teto do térreo praticamente se uniu ao piso daquele pavimento, restando pequenos espaços entre móveis, onde algumas vítimas foram encontradas”, relembra o coronel da Reserva Remunerada Vanderlei Vanderlino Vidal, que comandou a operação.
Relembrando a ocorrência, o coronel da reserva remunerada Vanderlino destaca a carga emocional enfrentada desde os primeiros instantes.
“O impacto emocional começou já no chamado”, afirma. “O desabamento de um prédio com vítimas em seu interior é uma situação rara. Um momento difícil foi quando determinamos o revezamento das equipes para descanso — ninguém queria deixar o local. Por mais que a coragem seja inerente à nossa profissão, ocorrências como essa comprovam, na prática, o que tanto se fala. Passa de mera retórica para realidade. Tenho orgulho, até hoje, de todos os bombeiros presentes naquela ocorrência em 2005”, conclui o coronel.
O sargento Laércio Pedroso confessa que essa foi a pior ocorrência de sua vida.
“Naquele dia, o que mais me marcou, e ainda marca até hoje, foi o medo. Não estou falando isso para criar nenhum tipo de heroísmo ou fantasia, mas foi realmente a pior ocorrência que enfrentei nesse aspecto. Eu senti muito medo. Quando eu estava dentro da edificação, começamos a ouvir estalos. Imagina, tinha acabado de colapsar um prédio inteiro, esmagando um pavimento… A estrutura estava totalmente comprometida. Se ali movimentasse um milímetro, tudo poderia desabar de novo”, relembra.
Esperança
Em meio à tristeza, houve também momentos de esperança.
“Foi uma ocorrência extremamente complexa, com vários episódios marcantes, mas o que mais me emocionou foi quando o esposo de uma das vítimas conseguiu falar com ela por telefone celular e confirmar sua localização. Felizmente, conseguimos resgatá-la com vida e presenciar o reencontro dos dois”, relembra Vanderlino.
O subtenente da reserva remunerada Wanderley Pereira também revive uma lembrança forte:
“Perguntei se havia mais alguém precisando de ajuda e ouvi o grito de uma funcionária que estava a cerca de 10 metros para dentro. Uma parede de tijolos estava sobre ela, mas sem pressioná-la — ela só não conseguia sair. Rastejamos até lá, quebramos a parede e, com cuidado, retiramos os tijolos até libertá-la. Ela conseguiu sair conosco”.
Pai e filho na ocorrência
Em meio a um cenário delicado, onde os bombeiros arriscavam as próprias vidas cumprindo o juramento da profissão, muitos também carregavam a preocupação com suas famílias.
Esse foi o caso do sargento José Luiz da Silva, que atuava diretamente na retirada das vítimas, enquanto seu filho, hoje sargento Luiz Henrique Pereira da Silva — à época, soldado recém-incluído no CBMSC — colaborava com as equipes na parte externa da operação.
“Meu filho estava começando na corporação e já enfrentava uma ocorrência daquela gravidade, o que me causava grande apreensão. Imagine se pai e filho morressem juntos numa operação? Por isso, pedi ao capitão Vanderlino que o mantivesse afastado da área de risco e permitisse que apenas eu entrasse no prédio”, relata o sargento da reserva remunerada José Luiz.
Avanços e melhorias do CBMSC
Na época, as técnicas empregadas eram as mais avançadas disponíveis, mas, mesmo com preparo físico, psicológico e equipamentos, a situação fugia ao controle humano.
“Quem fazia a medição avisava que o prédio continuava descendo alguns milímetros, e ainda tínhamos que buscar vítimas. O mais importante era a segurança. Fizemos o possível para escorar a estrutura, mas nada poderia conter o peso. Ele poderia desabar e nos esmagar junto com as vítimas”, lembra o subtenente Pereira.
O atual comandante do 4° Batalhão de Bombeiros Militar de Criciúma, tenente-coronel Henrique Piovezam da Silveira, na época era soldado e atuou na ocorrência do prédio dos Correios.
“Hoje, como comandante do 4º Batalhão, olho para trás e vejo o quanto evoluímos. Os avanços em tecnologia, os novos equipamentos de resgate, salvamento e combate a incêndio, e os investimentos contínuos em capacitação dos bombeiros fazem toda a diferença no nosso dia a dia. Na época, o Curso de Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas (CBREC) era restrito a poucos bombeiros. Hoje, faz parte da grade curricular de todos os cursos de formação. Estamos mais preparados, mais seguros e mais eficientes para atender à população”, reforça o tenente-coronel Henrique.
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