Jornalista Laudelino Sardá conta parte da trajetória da professora Amaline Mussi
A jovem senhora, de cabeça erguida no retrato de fidalga, esconde a sua simplicidade, bondade e, sobretudo, a inteligência. A duquesa de Abrantes destacava que na aparência da mulher está a curiosidade que ela sabe ocultar. Pois é, na evidência do seu semblante, a senhora menina, que esta semana completou 80 anos, sonega a sua realidade, sem ensejar apostas em hipotética ostentação. Aos poucos, ela conquista Tubarão justamente pela sua humildade de mulher vivenciada em ambientes culturais cariocas e da sua família que inaugurou uma casa de cinema em Laguna, desencadeando um processo de aculturação da cidade antiga adormecida.
A mulher menina, professora dotada de uma cultura admirável, desperta sempre a audição de alunos da Unisul, dos anos 70 ao terceiro milênio, com conhecimento expressivo em nível de compreensão da juventude, ouvindo sem temer sabatinas numa classe ávida para fugir à obviedade.
Amaline Boulus Issa Mussi é como o seu grande amigo carioca, o escritor Rubem Fonseca, diz em seu livro “Um mundo num grão de areia”: a sabedoria é saber viver e sofrer pelas razões certas. A senhora menina, cuja timidez não a impede de olhar nos olhos, parece o significado feminino na interpretação de José de Alencar, um dos primeiros a inserir em romance brasileiro a mulher como sujeito. Sim, Amaline é o sujeito da frase, do conhecimento, da avaliação, do relacionamento, da amizade, em sua grandeza de saber compreender as pessoas. O seu filho Guilherme é testemunha de que Amaline não é apenas uma mãe. Ela é uma sabedoria no texto, na interpretação, na cozinha, no piano, enfim, Tubarão tem uma dama que poderíamos até denominar de “Dama do Rio”, lembrando, inclusive, o livro que ela organizou sobre a importância das águas do Tubarão para a cidade onde ela se encontrou.
Certo dia, indaguei Amaline: e a cultura de Tubarão? A resposta foi curta e sábia: a cultura existe e forte; o povo a sente, mas falta um movimento capaz de desabrochar a timidez das pessoas, grupos, escolas e despertar o Poder Público para a necessidade de as crianças irem ao rio e sonhar com o Tubanharô nadando.
Sim, cultura imaginativa e rica em criatividade pode elevar a cidade à autoestima da população. E a nossa professorinha Amaline ensina bem: a consciência cultural precisa ser despertada. Quem sabe a cidade eleja a nossa professorinha para liderar o processo de recomposição cultural, por meio de projetos capazes de provocar suspiros em pessoas que ainda não descobriram a sua bela terrinha. Como diz o pensador mundial, aqui de São Ludgero, Huberto Rohden, a plantinha delicada da felicidade não medra senão no clima do pensamento positivo.
Laudelino José Sardá
Jornalista e professor