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GERAL
02/06/2020 14h37

Artigo: As gripes - um pouco de suas histórias

Médico Irmoto Feuerschuette relembra fatos importantes sobre a doença

A gripe é uma das mais antigas doenças da história da humanidade, antecedendo a vinda de Jesus Cristo à face da Terra.


O responsável pelo primeiro registro histórico da gripe foi Hipócrates, o grego considerado o pai da medicina. Era o ano de 412 antes de Cristo, quando Hipócrates descreveu o vírus da Influenza, considerado o maior assassino da humanidade.


Considero três grandes pestes que assolaram os seres humanos: a peste negra ou bubônica, a gripe espanhola e o coronavírus (covid-19).


A peste tem na bactéria yersina pestis seu agente transmissor, originária da Ásia, e era nos navios que aportavam em Veneza, na Itália, local que foi a porta de entrada em todo o Velho Continente. Os ratos que vinham nesses navios reproduziam a referida bactéria em seus intestinos, meio por onde eram multiplicadas. Esses ratos, repletos de pulgas, que, por sua vez, ao picarem os seres humanos, propagavam de forma avassaladora a doença. O aumento dos gânglios linfáticos na região inguinal formavam os bulbões, daí ser conhecida como peste bubônica. O cognome de peste negra advém das manchas escuras na pele dos infectados.


Estima-se que um terço da humanidade veio a óbito. O apogeu da mesma na Europa ocorreu no século XIV, entre os anos de 1347 e 1353. Por legado, a peste negra nos deixou a quarentena e o uso do alho para espantar os maus espíritos.


No Antigo Testamento, em Levíticos 13.4, encontramos o isolamento dos leprosos por sete dias. Derivado dos quarenta dias de Cristo no deserto, surgiu a quarentena.


A gripe espanhola, assim chamada por ser a Espanha o único país neutro na Primeira Guerra Mundial, era a mesma divulgadora dos estragos dessa pandemia. 


O número de mortos ultrapassou a casa dos cinquenta milhões de seres humanos, hoje acrescidos dos 15 milhões de indianos, supera com certeza os 70 milhões. Morreram mais na ocasião do que o somatório das mortes na primeira e segunda guerras mundiais, acrescidos dos mortos nas guerras da Coréia e do Vietnã.


O agente causador desta gripe foi o vírus Influenza. O início da pandemia é atribuído por alguns à França e por outros aos Estados Unidos da América, sendo este último o responsável pela disseminação do vírus no continente europeu, quando seus soldados foram enviados para a França no final da Primeira Guerra Mundial.


A origem norteamericana do vírus Influenza surgiu quando do aparecimento de aves migratórias no estado de Kansas. No Forte, Forty Riley, no Kansas, surge o primeiro soldado infectado, Albert Gritshell, e através dele começou a grande epidemia. Albert trabalhava no setor de alimentação e em menos de uma semana mais de 100 soldados guardavam a enfermaria. Os soldados infectados foram tratados nas enfermarias de Camp Funston. Albert resistiu ao vírus, vindo a falecer com 78 anos, no Estado de Dakota do Sul.


Soldados brasileiros foram acometidos pela gripe espanhola na Ásia, antes da chegada na Europa durante a Primeira Guerra Mundial.

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No Brasil, o paquete da marinha inglesa Demerara, saindo de Liverpool, na Inglaterra, passa por Portugal e aporta no Brasil, nas cidades de Recife, Salvador e Rio de Janeiro, neste último em outubro de 1918. Desses três portos, o vírus dissemina-se por todo o Brasil. No Rio de Janeiro, no dia 24 de outubro de 1918, ocorreram 1.070 mortes, sendo 930 pelo vírus, cujos corpos foram abandonados nas ruas. Em São Paulo, nos anos de 1918 e 1919, ocorreram 25 mil mortes. Estima-se que nas Américas e na Europa existiram 500 milhões de infectados.


Para a posteridade, a epidemia da gripe espanhola nos deixou a caipirinha, cuja origem é paulista, e o chá da meia-noite.


Na época, não existiam hospitais públicos, somente Santas Casas e a Cruz Vermelha. 


O chá da meia-noite originou-se na Santa Casa do Rio de Janeiro, onde, para acelerar os óbitos, administrava-se aos moribundos o chá envenenado. A Santa Casa passou a ser chamada de Casa do Diabo. 


No Rio de Janeiro, morreram o presidente da República, em dezembro de 1918, eleito e não empossado Rodrigues Alves, e o poeta Olavo Bilac. Morreram também por lá os dois irmãos de Henrique Lage, o grande industrial do Sul catarinense.


Em Tubarão, anos atrás, no arquivo público, deparei-me com vários jornais da época, onde haviam inúmeras citações a respeito da gripe espanhola.


Era eu sabedor que a epígrafe, existente no busto que na praça central de Tubarão homenageia Dr. Otto, meu saudoso pai, advém do seu trabalho nos anos da gripe espanhola. Sacerdote da medicina e apóstolo da caridade são citações que encontrei em diversos artigos no final da década de 20.


A chegada do vírus causador da gripe espanhola em Tubarão, por suposição, talvez tenha sido pelo portos de Imbituba e Laguna.


Naquela época, o Hospital Nossa Senhora da Conceição, superlotado, apropriou-se das instalações do antigo Clube Albor, localizado na subida da rua Coronel Collaço, para transformá-lo em enfermaria, o qual teve sua capacidade de atendimento em superlotação também. Uma vez que não existia mais capacidade de internações nas enfermarias, doutor Otto começou a fazer seus atendimentos visitando casa por casa, e os diagnósticos se repetiam sempre, como febre e tosse, sintomas do início da gripe. Os jornais registram que em sua maleta doutor Otto levava o remédio que destinava à população.


No Hospital Nossa Senhora da Conceição foram atendidos 216 enfermos no período de novembro de 1918 a março de 1919, ocasião em que ocorreram 11 mortes, sendo sete homens e quatro mulheres. Das quatro mulheres, duas eram freiras, uma de origem alemã e a outra natural de São José, que contraíram o vírus no seu labor em atendimento aos enfermos. Esses dados foram fornecidos pelo Amilton, funcionário do Same, do hospital citado acima.


Sobre a medicação fornecida pelo doutor Otto, constava no receituário um purgativo salino e, após seu efeito, a administração de aspirina e quinino - dado esse obtido através do Jornal O Lápis, edição de 27 de outubro de 1918, fruto de uma pesquisa efetuada pelo amigo Joel Koenig de Souza, funcionário do arquivo público na nossa Cidade Azul.


Dr. Irmoto Feuerschuette

Médico

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