“Eu gosto de viver com a realidade, mas com algum delírio. Porque só a realidade pra mim é insuportável.”
— Maria Bethânia.
Há quem diga que é preciso ser realista. Que é preciso ter os pés no chão, a mente sóbria, o coração blindado. Mas, com o tempo, a gente aprende que só realidade não basta. É dura demais. Pesada demais. Cinza demais.
Viver só com a realidade é acordar, pagar contas, sorrir no automático, seguir tarefas, aguentar injustiças, engolir notícias ruins e ainda agradecer. É necessário, sim. Mas, se for só isso, adoecemos. Perdemos o riso frouxo, o encanto pelas pequenas coisas. Perdemos a alma.
É por isso que o delírio salva.
Delírio é imaginar o impossível com a cara mais deslavada do mundo. É acreditar que vai dar certo mesmo quando não há sinal nenhum. É vestir uma roupa bonita num dia comum, só porque se ama. É rir alto sem motivo. É cantar no carro, fazer planos improváveis, escrever cartas que não serão entregues, dançar na cozinha, sonhar acordado.
O delírio é o tempero da realidade. Aquele detalhe que não faz sentido, mas faz bem. A parte que não precisa ser explicada. Só sentida.
Tem gente que vive só da realidade e se endurece. Vira pedra. Reclama da vida como quem esqueceu que pode sonhar. Mas quem mistura realidade com um pouco de delírio aprende a flutuar mesmo com o mundo desabando. Porque sabe que é preciso ter algum lugar para onde a alma possa fugir quando tudo aqui pesar demais.
A lucidez cansa. A lógica aprisiona. O delírio liberta.
Viva com os pés no chão, mas permita que seu coração voe um pouco todos os dias. E se alguém te perguntar em que mundo você vive, responda com sorriso nos olhos:
— No meu. Real, mas com um toque de delírio.
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