Recentemente, ao ouvir as palavras de Baby Consuelo, fiquei estarrecida. Como uma mulher que tem sua voz amplificada e é admirada por tantas, ela, de maneira irresponsável, lançou um discurso que não só é perigoso, mas completamente desconectado da realidade das mulheres que vivem, todos os dias, o peso do abuso, da violência e da opressão. A ideia de perdão em situações como essas, quando um corpo foi invadido e uma alma, dilacerada, não é apenas cruel, mas desrespeitosa para com as vítimas que, por muitos anos, têm sido silenciadas, ignoradas ou culpabilizadas.
“Perdoar é um ato de cura”, ela diz. Não, Baby Consuelo, perdão não é cura quando se trata de abuso. Perdão não é o caminho para quem foi violentado, humilhado, tratado como objeto. O perdão, em situações como essa, não é um ato de amor; é um ato de negligência. Não podemos, em nome de uma paz superficial, minimizar a dor e o sofrimento das mulheres que carregam marcas invisíveis, mas profundas, causadas por quem deveria ter sido um protetor e não um predador.
Não podemos permitir que o abuso se torne uma história de “perdão divino” ou de “superação pessoal”. Isso nada tem a ver com Deus, com fé ou com espiritualidade. Trata-se de um crime. Um crime que deve ser tratado como tal. Em um mundo onde mulheres são constantemente vítimas de violência, em que as denúncias ainda são tratadas com desconfiança, e em que a cultura do silêncio impera, o discurso de Baby Consuelo é uma faca afiada, que corta ainda mais fundo em um sistema que já é cruel o suficiente.
Nós, mulheres, não perdemos a nossa capacidade de perdoar, mas sabemos que, em casos como o abuso, o perdão não pode ser exigido. Não pode ser imposto. O abusador deve ser responsabilizado pelos seus atos, processado, punido. E não, não estamos falando de justiça divina, estamos falando de justiça humana. Não pedimos para que nos compreendam, pedimos para que nos respeitem, para que nos ouçam e, acima de tudo, para que parem de minimizar a gravidade do que acontece dentro dos lares, das ruas, dos hospitais, das escolas, todos os dias.
As mulheres que sofrem abuso precisam de apoio, de segurança, de leis que as protejam, não de conselhos que revitimam. Nossas experiências não devem ser tratadas como algo para ser “superado” ou “perdoado” a fim de agradar a um conceito abstrato de moralidade. Somos seres humanos, não somos máquinas de perdão. Somos vítimas que merecem ser ouvidas e, acima de tudo, protegidas.
Por isso, a minha resposta é clara: não perdoo o abusador e não perdoo você, que, com esse discurso irresponsável, está incentivando um crime. A luta das mulheres é por justiça, não por silêncio. E a nossa força está no direito de dizer, em alto e bom som: nós não perdoamos e não perdoaremos. Isso é caso de polícia, não de perdão.
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