A culpa goza. Se alimenta do prazer torto de quem se autoflagela. É um chicote invisível que nos faz dobrar a coluna, pedir desculpas o tempo todo, viver num teatro de penitência. A culpa é vaidosa: gosta de ser notada, gosta de se exibir como virtude.
Já o desejo resiste. É subversivo, indomável, insolente. O desejo não se curva, não se desculpa, não aceita algemas. Ele nasce no escuro e brilha, mesmo que tentem apagar. Ele não se satisfaz em sofrer: ele quer viver.
Por isso, a culpa é fácil — nos mantém prisioneiros de nós mesmos. O desejo é perigoso — nos leva a romper correntes, a ir além, a encarar o mundo com fome e coragem.
No fim, só o desejo nos salva. Porque a culpa se masturba de arrependimento, mas é o desejo que nos coloca de pé, que nos move, que nos dá motivo para continuar respirando.
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