O diagnóstico chega como um furacão. Rasga o chão, bagunça os dias, embaralha a rotina. Câncer de mama. Três palavras que carregam dor, medo, urgência. Mas o que quase ninguém fala é daquilo que vem depois, quando a vida começa a ser remendada — cicatriz por cicatriz — e a mulher tenta, silenciosamente, se reencontrar com o próprio corpo.
O corpo que foi cortado, invadido, marcado. O corpo que perdeu um seio, ou dois. Que perdeu cabelo, sensações, partes inteiras da autoestima. Que mudou sem pedir licença. E, com ele, a sexualidade também muda.
Não é raro que a mulher olhe no espelho e não se reconheça. Ou que sinta vergonha de desejar, de se deixar tocar, de se mostrar nua. Como se o feminino tivesse ficado preso em alguma sala de espera de hospital. Como se o prazer tivesse sido arrancado junto com a mama.
Mas é aí que começa outra batalha: a de entender que sexualidade não está somente no que se vê — está no que se sente. Está na coragem de seguir, de se redescobrir, de se permitir de novo.
A sexualidade pós-câncer de mama é, muitas vezes, mais madura. Mais profunda. É aquela que não depende da estética, mas da entrega. Que não se limita à performance, mas se ancora no afeto, na confiança, no toque sincero. É uma sexualidade que acolhe as cicatrizes como partes de uma história de superação — e não como falhas.
É preciso que parceiros e parceiras também aprendam a olhar com novos olhos. Que não afastem, que não silenciem, que não finjam que nada mudou. Porque mudou, sim. Mas ainda há beleza, desejo, amor. Ainda há um corpo vivo, que quer ser amado e, acima de tudo, respeitado em sua nova forma.
Falar sobre sexualidade e câncer de mama é devolver humanidade ao processo de cura. É lembrar que a mulher não se resume à sua doença — ela continua sendo corpo, alma, emoção, desejo. Ela continua sendo mulher.
E nenhuma cicatriz é maior do que a capacidade de amar-se de novo.
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