A notícia correu rápido, como um soco no estômago coletivo. Uma criança de nove anos, tão pequena, invadindo um hospital veterinário e matando 23 animais. Um ato que ultrapassa a capacidade de compreensão.
Como chegamos a esse ponto? O que pode levar uma criança, que deveria estar brincando, descobrindo o mundo, a destruir vidas indefesas de maneira tão brutal?
Ao tentar responder, somos lançados num abismo de perguntas maiores. O que acontece com uma sociedade onde as crianças se tornam protagonistas de tragédias assim? A violência que se espera do mundo adulto invade a infância, e o cenário se torna mais sombrio.
Não estamos diante de uma questão isolada; estamos de frente para um espelho que reflete o colapso de um tecido social que já vinha se desgastando há tempos.
As causas, talvez, sejam como fios entrelaçados. Uma criança não nasce com o impulso de matar. Algo precisa acontecer. E esse “algo” começa muito antes do ato final. Estamos falhando no cuidado, na atenção e, sobretudo, no afeto.
Vivemos numa era em que o abandono emocional é quase silencioso. A tecnologia aproxima, mas também afasta, e, muitas vezes, não vemos as dores que se desenvolvem debaixo de nossos olhos. Quantas vezes ignoramos os sinais, acreditando que é apenas “coisa de criança”? E, de repente, nos deparamos com a barbárie.
A violência não surge do nada. É uma construção. Nove anos de vida não deveriam ser suficientes para construir tamanho desespero. Mas algo foi alimentado dentro dessa criança, algo corrosivo, algo que transformou sua inocência em um impulso de destruição.
Será que falamos o suficiente sobre saúde mental infantil? Sobre como as crianças processam o que veem e o que sentem? Ou será que preferimos acreditar que elas estão imunes ao caos que as cerca?
As consequências desse ato vão muito além das vidas dos animais. Os donos desses pets, que viam neles membros da família, sofrerão por essa perda. Mas a maior tragédia está no que esse ato simboliza: a infância está sendo tomada pelo caos. E não podemos fechar os olhos.
Essa criança, que hoje é vista como um monstro, precisa de acolhimento, precisa de um olhar profundo e atento sobre suas vivências, suas dores e o que a levou a esse caminho.
É fácil gritar por punição, mas isso resolveria alguma coisa? De que adianta punir uma criança sem entender o que a fez mergulhar nessa escuridão? A violência com que essa sociedade a moldou não pode ser curada com mais violência.
Como sociedade, falhamos quando uma criança se torna símbolo de destruição. Falhamos quando ignoramos os sinais que nos alertam para o sofrimento silencioso. Falhamos quando a barbárie se torna nossa realidade e a única reação que temos é o espanto.
É hora de refletir sobre o tipo de mundo que estamos criando. Que tipo de infância estamos oferecendo? Que tipo de valores estamos transmitindo, quando a vida, em qualquer forma, parece perder o sentido?
Esse caso de Nova Fátima é um grito de socorro, não só dessa criança, mas de todas as outras que estão se afogando em um mundo onde o cuidado e o amor estão cada vez mais escassos.
Se não agirmos agora, se não mudarmos nossa forma de enxergar e cuidar da infância, o que virá depois pode ser ainda pior.
É preciso ouvir o silêncio após a barbárie e transformá-lo em um clamor por mudança.
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