Há uma pressa quase cruel em ser jovem para sempre. As capas de revista, os filtros perfeitos, os cremes milagrosos - tudo parece gritar que envelhecer é um erro, uma falha a ser corrigida. Mas, entre todas as ilusões vendidas, talvez a mais amarga seja essa: a de que a juventude é sinônimo de felicidade.
Eu, quando ficar velha, não quero parecer mais jovem. Quero parecer mais feliz. Porque, ao contrário das rugas, a alegria não se disfarça com maquiagem. Felicidade de verdade mora nas entrelinhas: no riso solto que amassa os olhos, nas marcas deixadas por lágrimas sinceras, nos vincos que desenham histórias inteiras na pele.
A juventude, muitas vezes, é ansiosa demais para se perceber feliz. Corre para conquistar, para provar, para se encaixar. Já quem viveu o suficiente para se libertar dessas urgências sabe que felicidade é feita de detalhes despretensiosos. É comer o doce favorito sem culpa, rir alto num restaurante cheio, abraçar demorado quem se ama. É entender que algumas batalhas não valem o cansaço e que a paz tem um preço, mas compensa cada centavo.
Quero envelhecer com a tranquilidade de quem sabe que a vida não foi perfeita, mas foi bem vivida. Sem medo de cabelos brancos ou rugas profundas, mas aterrorizada pela ideia de um coração vazio. Quero uma velhice com olhos que brilhem mais do que os cremes prometem, mãos marcadas de afeto e memórias que aquecem em dias frios.
No fim das contas, talvez a maior rebeldia seja essa: recusar a ilusão de parecer jovem para abraçar, sem vergonha, a beleza de ser feliz.
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