Todo mundo tem uma opinião pronta para o corpo da mulher. Parece que a sociedade distribui gratuitamente diplomas de especialista em estética feminina. E não importa se você pediu ou não, os pareceres chegam sem cerimônia: “Você devia emagrecer um pouco”, “Nossa, como está magra!”, “Essa roupa não te valoriza”, “Cabelo curto assim não fica feminino”, “Ah, mas uma mulher da sua idade…”. As frases, carregadas de certezas alheias, surgem no almoço de domingo, nas redes sociais, na fila do supermercado.
Curioso é que, enquanto as opiniões vêm de graça, a conta da ginecologista, do psicólogo, dos exames de rotina, essa fica toda pra você. Nenhum dos palpiteiros se oferece para bancar o ultrassom anual, a mamografia, os remédios para ajustar os hormônios, o tratamento para a endometriose. A sociedade que julga celulites, estrias e quilinhos a mais parece esquecer que saúde não se mede em números na balança.
A verdade é que ninguém quer falar sobre o lado B da mulher real: a cólica que dobra, o ciclo desregulado, o cansaço crônico de quem equilibra carreira, casa, estudos e uma lista interminável de expectativas. Esses temas não ganham tanto engajamento quanto uma discussão sobre o tamanho de uma saia. E quem deveria falar sobre isso (as próprias mulheres), muitas vezes se cala, com medo de mais julgamentos.
Entre tantas cobranças, você se vê pagando boletos para existir. Boletos emocionais para ser forte o tempo todo. Boletos sociais para se encaixar nos padrões. Boletos financeiros para se cuidar, porque, no fim, é sobre isso: autocuidado não é luxo, é resistência.
Então, da próxima vez que alguém opinar sobre seu corpo sem ter pago sequer o seu absorvente, lembre-se: a única opinião que importa é a sua. Quem não paga a consulta não tem direito à receita.
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