Tem dor que a gente administra. Tem dor que o tempo acalma. E tem a dor que não tem nome — porque nunca foi dita.
É essa que nos assombra. A que não foi colocada em palavras. A que ficou engasgada entre um “tá tudo bem” e um “não quero incomodar”. A dor do que não se diz. Do que não se pode dizer.
Crescemos sendo ensinadas a silenciar: “engole o choro”, “não faz drama”, “não reclama, tem gente pior”. Nos tornamos adultas com medo de parecer fracas, chatas, exageradas. Então sorrimos por fora enquanto sangramos por dentro.
Mas o corpo sabe. A alma sente. A mente cobra. E a conta sempre chega — em forma de ansiedade, de insônia, de crise de pânico, de explosões emocionais que ninguém entende porque “você sempre foi tão forte”.
Não poder dizer o que sente é um tipo de prisão. Uma cela invisível que a gente mesma reforça toda vez que se cala para preservar o outro, para manter a paz, para não perder o emprego, o parceiro, a amizade.
Mas qual é o custo de manter tudo isso se, no processo, a gente se perde da própria verdade?
Falar o que sente não é egoísmo. É sobrevivência. É higiene emocional. Porque o que não sai em palavras, sai em sintomas.
Silenciar a dor não a apaga. Apenas a empurra para um lugar mais fundo, onde ela fermenta e ganha força.
Tem libertação que começa com uma frase simples: “Isso me machuca.”
Tem cura que começa quando a gente ousa dizer: “Eu também importo.”
Não poder dizer o que sente é a mãe de todas as dores.
Mas poder — e escolher — dizer é o começo de todas as curas.
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