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Não existe pacto entre lobos e ovelhas

22/10/2024 14h33

Não existe pacto entre lobos e ovelhas. Essa é uma das verdades mais antigas, ainda que muitas vezes tentemos negá-la, como se fosse possível mudar a essência do que somos, do que os outros são. Vivemos acreditando que o mundo é feito de acordos, de concessões, de trégua, como se todas as naturezas pudessem se harmonizar com o tempo, bastando um pouco de paciência, um pouco de boa vontade.


Mas a verdade é que o lobo sempre será o lobo. Ele carrega em si a fome, o instinto de predador, a astúcia do ataque. E a ovelha, por mais que tente, jamais será algo além do que é: vulnerável, dócil, exposta. A natureza dos dois os coloca em lados opostos, destinados a se cruzarem num ciclo de caçada e fuga, de sobrevivência e sacrifício.


Muitos de nós, como ovelhas, achamos que podemos negociar com os lobos da vida. Acreditamos que, se formos gentis o suficiente, compreensivos o suficiente, poderemos amansar aquele que nos ameaça. Acreditamos que, com o tempo, o lobo vai ver nossa fragilidade e, por compaixão, poupar-nos da destruição. Como se a força bruta pudesse ser tocada pela delicadeza, como se a voracidade pudesse ser saciada pelo silêncio do medo.


Engano perigoso. Não se faz acordo com quem vive da nossa entrega. Não há palavra que apazigue um instinto, não há tratado que subjugue a fome de poder, de controle, de conquista. O lobo age pelo que é, não pelo que promete. E nós, em nossa ingenuidade, acabamos caindo nessa cilada de acreditarmos em mudanças que nunca virão.


Essa metáfora se aplica ao que vivemos diariamente nas relações com as pessoas, nas estruturas de poder, nos ciclos de violência emocional ou física. Quem busca dominar, ferir ou subjugar não se contenta com migalhas de afeto, com tréguas temporárias. Acordos que prometem paz com quem só conhece o conflito são sempre precários, sempre temporários. E, no final, quem paga o preço é sempre a ovelha, despojada de sua própria proteção.


Há momentos em que precisamos aceitar a realidade como ela é. Nem tudo pode ser consertado, negociado ou transformado pela nossa boa vontade. É preciso discernir os limites da bondade e da compreensão, é preciso saber quando o diálogo é apenas uma ilusão de equilíbrio em uma balança viciada. Porque o lobo, por mais que aprenda a se esconder sob peles mais macias, mais suaves, nunca deixa de ser quem é. Ele pode aguardar o momento certo, disfarçar seu apetite, mas no fundo, o pacto sempre foi uma miragem.


A grande lição é que, às vezes, a maior forma de sabedoria é não esperar pelo impossível. É saber quando desistir de acordos que nunca serão cumpridos, é entender que certas naturezas não mudam. E, assim, nos protegemos. Não pela luta, mas pelo afastamento. Não pelo confronto direto, mas pela preservação do que somos. Porque, no fim, a ovelha que sobrevive é aquela que entende que não é sua missão mudar o lobo — mas manter-se viva o suficiente para não cair em suas garras.


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SIBÉLE CRISTINA
SIBÉLE CRISTINA
Sibéle Cristina Garcia é apresentadora do programa Mais Mulher na UniTVSC desde maio de 2008. Graduada em Pedagogia e Marketing. Pós-graduada em Sexualidade Humana e Sexologia. É especialista em Relacionamento Abusivo, comunicadora, terapeuta e encorajadora da liberdade feminina.
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