Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses. Uma afirmação que, à primeira vista, pode parecer um tanto poética, mas que carrega um peso imenso sobre os ombros da existência. Na pressa do cotidiano, perdemos a visão das transformações sutis que nos cercam, como se estivéssemos blindados contra a beleza que floresce em silêncio.
As metamorfoses não são estrondosas. Não aparecem em um estalar de dedos, nem se revelam em cores vibrantes ao primeiro raio de sol. Elas ocorrem em sombras, em cantos escuros de nossas almas, onde a dor se mistura à esperança, onde o amor se confunde com a perda. A borboleta não se torna o que é por conta de um capricho do destino; ela passa por um processo profundo, intrincado, doloroso.
Quem observa uma crisálida à primeira vista pode ver apenas um casulo inerte, mas a vida lá dentro está fervilhando. Uma batalha silenciosa se desenrola; as células se rearranjam, o corpo se transforma. E assim somos nós, muitas vezes escondidos em nossos próprios casulos, lutando contra as correntes que nos prendem a antigos padrões, a medos que se arraigaram em nosso ser. E, embora esse processo possa ser angustiante, ele é essencial. A metamorfose é a arte de se despir, de abrir mão do que já não nos serve, mesmo quando isso significa deixar partes de nós para trás.
É nos momentos de solidão e introspecção que florescem as maiores mudanças. Quando a vida se silencia, quando nos afastamos do ruído externo, conseguimos ouvir a música da nossa alma. Quantas vezes você já se pegou em um transe, olhando para o nada, sentindo que uma transformação se aproximava, mas sem saber ao certo quando ou como ela ocorreria? O tempo parece derreter e se expandir; o silêncio se torna o palco onde dançamos nossa própria dança, muitas vezes sem saber o passo.
A sociedade nos pressiona a ser borboletas instantâneas, a mostrar nossos melhores ângulos em um clique, a celebrar as conquistas antes mesmo de termos passado pelo labirinto. Mas a beleza das borboletas não reside apenas na sua cor ou na sua graça ao voar; está na resiliência da metamorfose. A verdade é que muitos de nós permanecem presos, hesitando em sair do casulo. Temos medo do desconhecido, da fragilidade que acompanha a transformação.
E se falharmos? E se a borboleta não conseguir voar? Esse medo nos paralisa. Porém, é preciso lembrar que o que nos aguarda do lado de fora é um céu aberto e um mundo cheio de possibilidades. Não haverá borboletas se não nos permitirmos passar pelo processo de nos tornarmos quem realmente somos.
Portanto, da próxima vez que sentir o peso do silêncio ou a carga da transformação, lembre-se: as borboletas são uma metáfora da vida. É no compasso da espera, na suavidade das mudanças silenciosas, que encontramos nosso verdadeiro eu.
O mundo precisa das borboletas, mas, antes de tudo, precisamos nós mesmos ser capazes de nos transformar. E assim, quem sabe, ao olharmos para o céu, poderemos nos tornar o que sempre sonhamos ser, cheios de cor e vida, após as longas e silenciosas metamorfoses que moldaram nossas almas.
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