Era uma vez o tão esperado “Chá Revelação”. Balões cor de rosa ou azul, fumaças coloridas, fogos de artifício e – para os mais criativos – até aviões com faixas ou quedas de paraquedas para anunciar a grande novidade.
A curiosidade a mil, o suspense que move o momento e a multidão de celulares erguidos, todos captando aquele instante único em que o segredo será revelado: menino ou menina?
E em um segundo, lá se vão os risos, abraços, aplausos e até algumas lágrimas. Mas a pergunta que fica no ar, em silêncio, é muito maior do que uma explosão de cores: o que realmente estamos revelando?
Vivemos tempos em que o gênero, antes quase imutável, se tornou uma descoberta constante para muitos, uma construção diária, um caminhar para dentro de si. A ciência e a experiência humana nos mostram que o que vai no coração e na mente de uma pessoa é muito mais complexo do que a cor da fumaça que sai de um balão.
A identidade de cada um é tão pessoal, tão única, que a própria ideia de um “chá revelação” já soa como uma pequena contradição. Afinal, será que estamos prontos para reconhecer que, no fundo, talvez nada esteja revelado ali? Que talvez o balão, a fumaça e os gritos de “é menino!” ou “é menina!” sejam apenas um fragmento da história, um prólogo de um longo caminho?
É uma cena irônica – estamos rodeados de surpresas em nossa cultura, fascinados pela revelação do “mistério” da cor, mas será que sabemos celebrar a verdadeira complexidade do ser humano? Talvez o que precisemos mesmo é de um novo chá, um que seja mais sobre o “bem-vindo ao mundo” e menos sobre a expectativa de o que ele ou ela deve ser.
Um chá onde o balão estoure dizendo: “seja você”, onde o bolo tenha um recheio que diz “escreva sua história”. Um chá para mostrar que o amor dos pais é o que preenche qualquer cor e forma que venha, e que toda descoberta futura será uma bênção, muito além de um momento de fumaça colorida.
No final das contas, a verdadeira revelação não está na cor, mas na liberdade de cada ser humano de descobrir, a seu tempo, quem é – e esse, sim, é um espetáculo digno de aplausos.
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