Amar é o ato mais gentil de invasão: não arromba, não exige, não obriga. Apenas bate à porta com um olhar tímido e pergunta: “Posso entrar?” E quando o coração do outro diz sim — ainda que trêmulo, ainda que assustado — nasce ali uma coisa nova. Não é só um amor. É um novo “nós”.
Amar é pedir licença para nascer no outro — e isso exige delicadeza, espera e escuta. É chegar com pés descalços, respeitando os silêncios e os traumas, aceitando os móveis tortos da alma alheia, os quadros pendurados de um passado que ainda machuca, as gavetas trancadas com medo.
Porque ninguém nasce inteiro no outro. É preciso construir espaço, como quem planta um jardim num terreno que não é seu. Cuidando para não esmagar flores já existentes, regando com paciência, esperando a primavera emocional que nunca tem data certa.
E quem ama de verdade, não quer moldar o outro à sua imagem. Quer apenas existir ali, como quem mora em casa alugada, mas trata como lar. Com zelo. Com cuidado. Com reverência.
O amor verdadeiro não chega dizendo “agora você é meu”, mas sussurrando “quero ser com você”.
Porque amar é isso: um pedido humilde de nascimento no peito do outro. E, se for correspondido, é a vida sendo renovada em dois corpos, dois corações, dois mundos que se acolhem e se reinventam.
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