Eu estava em frente a uma banca de revistas, próxima ao Calçadão, quando um senhor idoso se aproximou de mim, com um sorriso artificial, olhar perdido e cabelos cor de milho verde.
Sem se apresentar ou desejar bom dia, ele começou a despejar suas ‘verdades’ em um tom desconfortável e grosseiro, atraindo olhares desconfiados das pessoas que caminhavam pela região.
Eu nunca o tinha visto, mas logo percebi que era o tipo de pessoa que acredita saber de tudo — um típico ‘especialista em todas as coisas’, desses desocupados que buscam holofotes comentando qualquer tipo de notícia publicada nas redes sociais.
“O povo brasileiro tem mesmo é que se ferrar!” — disse ele, olhando para mim com uma expressão que parecia esperar minha concordância.
Fiquei em silêncio, imóvel, evitando qualquer expressão que pudesse confirmar o que ele desejava. Mas, como ele falava pelos cotovelos e era capaz de sustentar um diálogo consigo mesmo, continuou sem dificuldades: “O povo brasileiro não sabe votar! Sempre elege gente corrupta. Já estou cansado desse povo idiota.”
Enquanto ele despejava sua indignação contra o povo brasileiro, um carro passou por nós e fez uma conversão à direita sem sinalizar. Ao ver a cena, ele comentou: “Não estou dizendo? O povo brasileiro não sabe dirigir, o povo brasileiro não sabe sequer interpretar uma placa de sinalização!”
Eu continuei em silêncio, esperando ele terminar de desabafar e seguir seu caminho. Mas então ele olhou para o relógio, viu que já eram quase 19 horas e notou uma fila se formando na entrada da lotérica.
Isso serviu de combustível para mais uma crítica ao povo brasileiro. “Olha lá! — disse ele — bem na hora de fechar, e esse povo fazendo fila. O povo brasileiro não tem jeito, deixa tudo para a última hora!”
Depois disso, resolvi romper o silêncio:
“Interessante, o senhor até que fala bem a nossa língua.”
“Como assim? Não entendi.”
“Quero dizer que mal percebo seu sotaque.”
“Sotaque? Que sotaque?”
“É o primeiro estrangeiro que vejo falar português tão perfeitamente.”
“Você está doido? Sou brasileiro! Tubaronense, nascido no Hospital Nossa Senhora da Conceição.”
“Sério? Perdão pelo engano! É que, escutando suas críticas veementes às falhas e manias do ‘povo brasileiro’, até cheguei a pensar que o senhor fosse um cidadão inglês.”
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