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BLOGS E COLUNAS

O que não se ensina, mas se aprende

02/05/2025 09h15

Quando eu era criança, nos tempos de escola, tínhamos aulas de religião. A professora era uma mulher baixinha, de semblante fechado, que raramente esboçava um sorriso.

Sua função, em tese, era fazer perguntas e nos convidar a pensar, mas ela preferia repetir suas próprias ideias e certezas. Parecia mais interessada em impor suas crenças do que em permitir que as palavras da Bíblia falassem ao nosso entendimento e coração.

Naquele tempo, eu não compreendia muito bem o que estava acontecendo. Hoje, no entanto, entendo: aquilo era crença pessoal disfarçada de ensino religioso. Em minha turma havia crianças evangélicas — meninos que só podiam usar calças e camisas de mangas compridas; meninas que deviam vestir saias até os tornozelos e manter os cabelos longos.

A professora sabia que, por convicções religiosas de suas famílias, aquelas crianças só podiam rezar o Pai-Nosso. Ainda assim, fazia questão de impor a Ave-Maria. De algum modo, parecia sentir um prazer estranho em apresentar suas verdades como as únicas possíveis.

Algumas crianças também estavam longe do que eu chamaria de gentis — eram, muitas vezes, quase cruéis. Se uma menina era gordinha, logo virava a “baleia fora d’água”. Se um menino era magro, era chamado de “o seco”.

Se alguém pertencia a uma religião diferente da mais comum, ganhava o apelido de “crente louco”. Se um guri não fosse turrão, não cuspisse longe nem fizesse pose de valentão, logo era tachado de “viadinho”.  Nem as boas notas escapavam do desprezo da turma que só valorizava quem jogava bem futebol.

Por fazer parte daquele ambiente contaminado, também fui, muitas vezes, cruel com as palavras. Ainda assim, não posso negar: aquela escola me deixou lições valiosas, que carrego até hoje.

Aprendi a reunir palavras, a resolver as quatro operações matemáticas e me tornei uma pessoa “casca-grossa”, que não se abala por qualquer coisa. Mas, acima de tudo, aprendi a lição mais importante da minha vida — algo que jamais constou na grade curricular daquela instituição: aprendi que não tenho o direito de ferir — nem de impor minhas verdades e crenças — a alguém que é, e pensa, diferente de mim.


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MACIEL BROGNOLI
Crônicas e contos
Maciel Brognoli é guarda municipal de Tubarão, graduado em Administração Pública, especialista em Segurança Pública e Gestão de Trânsito e escritor. Ocupa a cadeira n° 27 da Academia Tubaronense de Letras (Acatul) e escreveu quatro livros.
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