Era mais um dia comum na fazenda Nova Esperança. A passos lentos, o pacato e obeso boi Soberano pastava tranquilo balançando os culhões pelo vasto campo verdejante, quando um estrondo repentino fez a terra tremer. O bovino misteriosamente desapareceu diante dos olhos incrédulos de Carlos, o peão da fazenda.
"Eu sabia que um dia isso ia acontecer. Uma nave espacial reptiliana abduziu o coitado do boi Soberano para seu mundo cruel", pensou ele.
Montado a cavalo, o peão se aproximou com cuidado do local do sumiço. Uma espessa nuvem de poeira avermelhada bailava no ar e foi se assentando devagarinho, desvelando uma grande cratera por onde ecoava um mugido agonizante. O motivo do insondável sumiço do gado era menos sobrenatural do que o peão havia imaginado: o peso do animal fez romper as placas de concreto que cobriam um antigo poço desativado.
Carlos acionou o Corpo de Bombeiros. Em pouco tempo, homens altamente treinados chegaram para executar a difícilima operação de resgate. A notícia viralizou nas redes sociais. A imprensa nacional acompanhou de perto o caso.
Drones e helicópteros sobrevoaram a área captando imagens que eram transmitidas ao vivo para todos os canais de televisão. Ambientalistas, protetores de animais e veganos elogiavam a ação e enfatizavam por todos os meios de comunicação a grande importância do respeito aos animais.
Horas depois, 62 horas para ser mais preciso, o boi foi retirado com vida do fundo do poço.
Mas o sucesso só foi possível porque os vinte homens do Corpo de Bombeiros, os seis funcionários da fazenda e um grupo de voluntários trabalharam ininterruptamente durante todo esse tempo.
Em entrevista para um canal famoso de televisão, o comandante dos Bombeiros, que acompanhou todo o resgate pela internet, sentado na poltrona de sua sala de comando, falou:
– O boi Soberano estava muito debilitado, mas conseguimos retirá-lo com vida. Ficou aos cuidados do veterinário da fazenda e agora está em segurança. Agradeço a todos que nos ajudaram nessa nobre missão. E que fique bem claro, para o Corpo de Bombeiros não importa se é humano ou animal que está em perigo, não medimos esforços para salvar vidas.
Uma semana depois, o fazendeiro Gregório convidou todas as pessoas que participaram do resgate para uma confraternização na sede de sua fazenda. Eles estavam felizes e sorriam, pois aquele momento de união só estava acontecendo porque eles haviam obtido êxito no resgate de uma vida. Sentados à mesa, conversavam descontraidamente sobre os mais diversos assuntos. Até que em determinado momento um jovem e ingênuo soldado do Corpo de Bombeiros perguntou para o fazendeiro Gregório:
– E o boi Soberano, como tem se comportado depois de escapar da morte?
O homem sorriu, deu dois tapinhas nas costas do garoto, olhou na direção da cozinha e falou em alto e bom som:
– Ôôô, Zé, pode servir o churrasco!