Era típico dia de inverno. Ingressei na localidade do Areado (Tubarão, SC) às 14 horas. O sol do início da tarde avivava as cores da natureza e amenizava o frio. E o céu, de tom azul celeste e enfeitado com nuvens de algodão-doce branco e rosa.
Quando cheguei ao sopé da maior montanha do lugar, avistei uma casinha branca com varanda estreita, onde um menino introspectivo parecia imaginar como é o mundo além das montanhas que circundam a propriedade. Quando ele ouviu o ronco do motor e viu a luz vermelha do giroflex, ficou a observar curioso a aproximação da viatura.
E foi naquele instante que uma força estranha rompeu em mim o limite que separa o presente do passado, a fantasia da realidade. A estrada de chão batido, o menino do interior, o cantar dos pássaros, o silêncio das montanhas, as plantações de feijão e milho... tudo naquela terra fazia parte do cenário dos meus primeiros anos de vida.
Estacionei em frente da casinha branca. Cumprimentei e conheci os moradores. Olhei para o menino Paulinho e senti-me como se estivesse diante do espelho.
Alguns anos antes, quando eu era garotinho e estava à deriva no mar da existência e sem forças para nadar até a segurança da terra firme, fui presenteado com a tábua de salvação em forma de prosa e verso.
Os livros – ebooks ou tradicionais – sempre me acompanham. Por coincidência, naquele dia, eu tinha dois na viatura: um infanto-juvenil e outro de contos. Presenteei o menino da casinha branca. O de contos – A caneta e o anzol – é do escritor Domingos Pellegrini, autor do primeiro livro que li na vida: A árvore que dava dinheiro.
Paulinho ficou feliz, agradeceu e disse que os leria com gosto. Em breve, pretendo presenteá-lo com outros títulos. Assim, por meio da leitura, ele vai ficar sabendo o quanto é belo, grande e perigoso o mundo além daquelas montanhas. E o que é melhor, por enquanto, sem precisar sair da segurança e aconchego da casinha branca.