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BLOGS E COLUNAS

O flagrante

19/03/2024 11h14

Já passava das onze horas da noite da última sexta-feira quando descobri, da pior maneira possível, que o marcador de combustível da minha motoneta havia travado o ponteiro na marca de meio tanque.


O motor começou a apresentar sinais de que a gasolina estava acabando e, bem em frente à UniSul, parou de funcionar. Desmontei, levantei o banco, tirei a tampa do tanque, espreitei lá dentro e só senti o cheirinho da gasolina no reservatório vazio.

Não esbravejei, não proferi palavrões, apenas fiz o que tinha que ser feito: empurrei a motoneta até perto da ponte do Morrotes, onde encontrei um lugar seguro para deixá-la estacionada até que eu resolvesse o problema.

Continuei a pé com a intenção de comprar gasolina no posto localizado em frente à igreja do Morrotes. Como eu precisava de um recipiente para colocar o combustível, comecei a observar as lixeiras das residências e encontrei uma garrafinha PET transparente de 500ml, que decidi levar comigo.


Infelizmente, para confirmar que era mesmo meu dia de azar, aquele posto estava fechado, então continuei caminhando em direção ao próximo, localizado às margens da rodovia BR-101.


Ao chegar lá, solicitei ao frentista que abastecesse o recipiente. Após um breve descanso, percorri os quase 2 km de volta, segurando a garrafinha transparente repleta daquele líquido amarelinho que magicamente dá vida aos motores.


No trajeto, cheio de perigos reais e imaginários, minha canela escapou por centímetros da boca nervosa e cheia de dentes afiados de um cachorro de rua, e uma viatura da Polícia Militar passou lentamente ao meu lado, com os policiais me observando com um olhar desconfiado.

Quando estava quase de volta, em um trecho mal iluminado da rua, havia pedaços de madeira na calçada. Desviei de alguns, porém não consegui evitar todos e acabei pisando em uma tábua que tinha um prego apontado, o qual atravessou meu tênis e perfurou meu pé.


Não foi um ferimento profundo, mas doeu e me fez mancar por uns duzentos metros até chegar onde tinha deixado minha motoneta estacionada. Coloquei gasolina no tanque, fiz o motor funcionar e fui embora contente, pois apesar dos imprevistos tudo tinha dado certo.

Dois dias depois, um amigo me procurou para saber se estava tudo bem comigo. Sem me deixar falar, ele logo me indicou uma psicóloga e disse que conhecia um pastor evangélico que poderia me oferecer aconselhamento espiritual.

"Sobre o que você está falando?" - perguntei, assustado.

"Eu não queria me meter nessa história, mas como sou seu amigo, sinto-me na obrigação de ajudá-lo," disse ele, com ar de preocupação.

"Continuo sem entender nada!"

"Maciel, não pretendo te constranger, mas é algo que todos estão comentando no nosso bairro: todo mundo já sabe que você foi avistado tarde da noite próximo à ponte do Morrotes, cambaleando e segurando uma garrafa de cachaça."



MACIEL BROGNOLI
Crônicas e contos
Maciel Brognoli é guarda municipal de Tubarão, graduado em Administração Pública, especialista em Segurança Pública e Gestão de Trânsito e escritor. Ocupa a cadeira n° 27 da Academia Tubaronense de Letras (Acatul) e escreveu quatro livros.
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