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BLOGS E COLUNAS

A amarga consequência da irresponsabilidade

11/03/2021 16h25

Mesmo sabendo que existe um vírus mortal que se dissemina com facilidade em ambientes com aglomeração, João combinou com um grupo de amigos uma festa no sítio de sua família. Lugar estrategicamente escolhido por causa da localização de difícil acesso e sem vizinhos para denunciar a transgressão do decreto proibitivo, reduzindo a quase zero a chance de a Guarda Municipal aparecer para acabar com a farra e punir os fora da lei.


Beijos. Abraços. Apertos de mãos. Danças. Copos e corpos compartilhados. 


Já estava quase amanhecendo quando João voltou para casa entorpecido pelo consumo de álcool e drogas. Abriu a geladeira. Bebeu água direto da jarra. Foi ao banheiro. Escovou os dentes. Secou o rosto e as mãos mal lavadas e foi dormir. 


A mãe de João, idosa, acordou minutos depois. Foi ao banheiro. Lavou o rosto e se secou com o mesmo pano que o filho usou. Foi à cozinha. Pegou um copo. Abriu a geladeira e bebeu água da jarra que João tomou no gargalo.


Dez dias depois, João sentiu uma leve dor na garganta, mas logo passou. Já sua mãe  começou a sentir dores fortes de cabeça, que evoluiu para tosse contínua, febre alta, perda do paladar e dificuldades para respirar. Sentiu-se tão fraca que teve que ser levada às pressas para o hospital. O resultado do exame mostrou que ela fora infectada pela covid-19, e seus pulmões já estavam 80% comprometidos. Horas depois, ela foi intubada. Horas depois, ela morreu!


João ficou inconsolável com a perda. Escreveu texto emotivo para expressar seu suposto amor pela mãe e publicou nas redes sociais: "O imprevisto provém a todos, mas tenho certeza que mamãe foi acolhida por Deus e será mais uma estrelinha a brilhar no céu".


Na manhã seguinte à do enterro, quando se olhou no espelho, João estranhou ao ver um fio de sangue escorrendo pelo orifício nasal. Naquele exato momento, a consciência de João pesou, e a realidade o atingiu como um raio: a verdade é que a morte tinha entrado em sua casa a seu convite. E ela não foi embora de mãos vazias!



MACIEL BROGNOLI
Crônicas e contos
Maciel Brognoli é guarda municipal de Tubarão, graduado em Administração Pública, especialista em Segurança Pública e Gestão de Trânsito e escritor. Ocupa a cadeira n° 27 da Academia Tubaronense de Letras (Acatul) e escreveu quatro livros.
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