E a realidade no país mais populoso da América Latina pode ser muito pior por vários fatores
Quando o segundo ministro da Saúde renunciou em um mês, um dos brasileiros que acompanha mais de perto a evolução da pandemia declarou inaugurada a fase do salve-se quem puder. "Nunca quis tanto estar errado. Que todo Estado e cada cidade se cuidem. Nosso problema vai ser longo”, tuitou Atila Iamarino, biólogo e divulgador científico que faz sucesso no YouTube com suas explicações sobre a covid-19.
Com quase 17 mil mortes e 254 mil infecções, o Brasil tem um dos surtos mais ativos do mundo. O balanço oficial o coloca como o terceiro país em casos, após ultrapassar o Reino Unido nesta segunda-feira (18) - além da Itália e da Espanha durante o fim de semana -, e o sexto em mortes.
Mas a realidade no país mais populoso da América Latina pode ser muito pior por vários fatores: é um dos que fizeram menos testes, as hospitalizações por síndrome respiratória aguda e as mortes suspeitas dispararam desde o primeiro contágio. A gestão da crise da saúde e das quarentenas é cada vez mais caótica em um país que há apenas alguns anos teve notáveis avanços na luta contra o Aids e a zika.
O impacto da covid-19 é muito desigual neste território de dimensões continentais e 210 milhões de habitantes, que também enfrenta a crise tendo como obstáculo um presidente negacionista, Jair Bolsonaro, que boicota diretamente os esforços dos governadores para que as recomendações de isolamento sejam respeitadas e para a contenção da pandemia. Walter Cintra, especialista em administração hospitalar da Fundação Getúlio Vargas, lembra que a velocidade do contágio e da letalidade surpreenderam toda a comunidade científica, mas destaca que o Brasil “vive uma tragédia” por causa de um problema adicional: seu governo federal.