Os aparelhos deveriam ter sido entregues no início de abril, mas não chegaram
O governo de Santa Catarina levou cinco horas para decidir comprar, receber uma proposta e bater o martelo sobre a aquisição de 200 respiradores a R$ 33 milhões. A pressa teve um preço. Os aparelhos, que deveriam ter sido entregues no início de abril, em 48 unidades de saúde do Estado, não chegaram. A previsão mais otimista, agora, é para junho. As informações foram apuradas e divulgadas pelo site The Intercept Brasil, nesta terça-feira (28).
Cada respirador, equipamento essencial durante a pandemia, já que um dos principais sintomas de coronavírus é a falta de ar, saiu por R$ 165 mil – valor bem acima dos R$ 60 mil a R$ 100 mil pagos pela União e por outros estados.
Além do preço, segundo a reportagem, causa estranheza a escolha do fornecedor: a Veigamed, uma empresa da Baixada Fluminense, sem histórico de vendas desse aparelho e especializada no comércio de produtos hospitalares como gaze e mobília. Em seu site, não há menção a respiradores ou qualquer outro tipo de equipamento elétrico de maior valor. A empresa também nunca teve nenhum contrato com o governo catarinense e, nos últimos cinco anos, a soma de todos os produtos que vendeu à União é de apenas R$ 24 mil.
Na proposta de venda encaminhada ao governo pelo diretor da Veigamed, Pedro Nascimento Araújo, é informado que a empresa atuaria em conjunto com a Brazilian International Business, com sede em Joinville. Essa empresa seria, segundo o documento, a responsável pela parte internacional da transação. O modelo de respirador oferecido é o Medical C35, de um fornecedor no Panamá.
O primeiro lote com 100 respiradores deveria chegar até 7 de abril, o que não ocorreu. Em 8 de abril, a Secretaria de Saúde notificou a empresa sobre o atraso, que modificou o modelo do respirador para o Shangrila 510S, de um fornecedor da China, e estendeu o prazo de entrega para junho. Conforme apuração da reportagem com especialistas, o novo modelo é inferior, com menos funcionalidades, e custa um terço do valor do Medical C35.
Nesta segunda-feira (27), a assessoria jurídica da Saúde produziu um parecer pedindo o cancelamento da compra, multa de 10% do valor do contrato (R$ 3,3 milhões) e suspensão de seis meses para a Veigamed firmar novos contratos com o governo do Estado. Não foi citado o valor de R$ 33 milhões já pagos à empresa.