Divo Fernandes de Oliveira, de Tubarão, foi preso político e desapareceu na ditadura
O principal assunto desta semana no país foi a premiação da atriz Fernanda Torres por sua atuação no filme “Ainda Estou Aqui”, que conta a história de Eunice Paiva, que lutou por 40 anos procurando a verdade sobre Rubens Paiva, seu marido, desaparecido durante a ditadura militar no Brasil.
Histórias como a retratada pelo filme se multiplicam Brasil afora. No caso do tubaronense Divo Fernandes de Oliveira, a família jamais teve alguma explicação pelo desaparecimento. Desapareceu entre o final de 1964 e o início de 1965, quando se encontrava sob tutela do Estado brasileiro e, desde então, seu paradeiro e os seus restos mortais permanecem desconhecidos.
Divo nasceu em Tubarão e teve uma infância marcada pela pobreza. Aos 16 anos, em 1911, alistou-se na Marinha Mercante e passou a percorrer o país de porto em porto.
Mesmo aposentado, trabalhava como taifeiro da Marinha, e distribuía material impresso do Partido Comunista Brasileiro (PCB) pelas diversas cidades em que ancorava. Na ditadura militar instalada em 1964 já era um militante do PCB, mas desenvolvia pouca atividade dentro do partido.
O antigo militante do PCB tinha 69 anos quando juntou-se, em 13 de março de 1964, às milhares de pessoas que participaram do Comício da Central do Brasil, no qual o então presidente da República, João Goulart, defendeu com veemência as reformas de base.
Com o advento do golpe de 1º de abril de 1964 e a consequente radicalização das tensões políticas, Divo passou a enfrentar uma série de dificuldades. Pouco tempo depois, foi preso no Rio de Janeiro e enviado ao Presídio Lemos Brito.
Procura eterna
Com a informação da prisão do marido, a esposa de Divo, Nayde Medeiros, deslocou-se para o Rio de Janeiro, para visitá-lo, em meados de 1964. De volta a Criciúma, onde morava, dona Nayde, que era professora do Grupo Escolar Coelho Neto, enfrentou dificuldades econômicas que a impossibilitaram de voltar ao Rio no mesmo ano.
O retorno só foi possível no ano seguinte. Entretanto, ao chegar ao presídio, recebeu a informação de que Divo havia desaparecido da prisão.
Inconformada com a situação, assim como Eunice Paiva, ela iniciou verdadeira peregrinação pelos presídios, hospitais e cemitérios do Rio de Janeiro. Mas, ao contrário de Eunice, até a data de sua morte, em 1975, Nayde nunca recebeu nenhuma explicação para o desaparecimento de seu marido.
A memória de Divo Fernandes de Oliveira foi homenageada em Criciúma, com uma rua que leva seu nome.
Filha também procurou pelo pai
“A filha de Divo, Alba Valéria dos Reis, começou a procurar o pai depois de adulta. Em 1989, esteve no Rio de Janeiro visitando várias repartições públicas e presídios. Uma funcionária do Departamento do Sistema Penitenciário (Desip) localizou uma pasta, número 21.426, onde havia o nome de Divo Fernandes de Oliveira. Nela, Alba encontrou alguns documentos pessoais e nada mais”, diz relatório da Comissão Nacional da Verdade.
Não foi possível elucidar como se deu o desaparecimento de Divo, a partir do Presídio Lemos Brito, entre o final de 1964 e o início de 1965.
No Rio, em 1989, Alba encontrou os únicos pertences que tem hoje do pai: uma caderneta de poupança, um talão de cheques, o título eleitoral e o documento de inscrição no Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos. Foi uma espécie de reencontro. Nesse evento, acabava a busca.
Semelhança com filme
Em “Ainda Estou Aqui”, a atriz Fernanda Torres revive a história real de Eunice Paiva, advogada e mãe do escritor Marcelo Rubens Paiva. Eunice passou 40 anos procurando a verdade sobre Rubens, seu marido desaparecido durante a ditadura militar.
Forçada a abandonar sua rotina de dona de casa, Eunice se transforma em uma ativista dos direitos humanos, lutando pela verdade sobre o paradeiro de seu marido e enfrentando as consequências brutais da repressão.
O filme explora não apenas o drama pessoal de Eunice, mas também o impacto do regime militar na vida de milhares de famílias, destacando o papel das mulheres na resistência.
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