Quinta-feira, duas e meia da tarde. Estou sentado em uma cadeira de lanchonete no aeroporto de Guarulhos, esperando o voo para Jaguaruna. Pedi três garrafinhas de água: uma para mim, outra para meu filho e outra para minha esposa. Ao redor, o movimento é constante, malas deslizando, vozes que se cruzam, passos apressados que parecem não ir a lugar algum.
Tenho três horas de espera pela frente, e o tempo, quando não há o que fazer, parece andar ainda mais devagar. Para enganá-lo, encontrei uma válvula de escape: escrever. O tema escolhido? O objeto que está sobre a mesa, a garrafinha de água.
Foi ao refletir sobre o preço de R$ 12 por uma simples garrafinha que comecei a pensar sobre os limites da liberdade de quem vende. É legal cobrar isso; nenhuma lei proíbe. Mas, de certo modo, é imoral. O produto que sai da fábrica por menos de cinquenta centavos e chega ao supermercado por pouco mais de um real, aqui ganha um valor quase simbólico: o preço da sede em um lugar sem escolhas. Aqui, você compra ou morre de sede.
Não é só o bolso que reclama, é também a consciência. A sensação de estar sendo assaltado não vem de uma ameaça, mas da resignação diante da falta de opção. Todos os comerciantes cobram os mesmos doze reais pela garrafinha.
Esta crônica, sei bem, não vai mudar nada. Continuaremos pagando caro por qualquer coisa nos aeroportos. Mas, de algum modo, me ajudou a fazer o tempo correr um pouco mais depressa. Olhei para o relógio, já está na hora do embarque. Fui.