A frase de Contardo Calligaris – “Se você encontrar alguém disposto a caminhar na chuva ao seu lado, não fuja, molhe-se” – é uma lembrança poética de que existem momentos e pessoas que merecem ser vividos sem medo.
Chuva, em muitos sentidos, é metáfora para as dificuldades, os desafios e os dias cinzentos que chegam sem aviso. É comum buscarmos abrigo, cobrir-nos de guarda-chuvas e capas, tentando fugir dos incômodos que cada gota pode trazer. Mas o que Calligaris nos propõe é quase o oposto: ao lado da pessoa certa, aceitar a chuva, deixá-la escorrer pelo rosto e dividir esse momento, sem fugir.
Quantas vezes nos privamos de viver algo bonito por medo do desconforto ou da incerteza? Quantas pessoas se aproximaram dispostas a nos apoiar nos momentos menos ensolarados e, em vez de caminhar com elas, preferimos seguir para um abrigo, esperando pelo “tempo melhor”? Porque, afinal, o impulso de se proteger da vulnerabilidade é natural. Porém, é justamente nesses momentos – quando estamos sob a chuva – que descobrimos o valor de uma companhia que não se importa com os riscos, que não se importa com os dias mais difíceis. Alguém disposto a compartilhar as incertezas e as alegrias, molhar-se ao nosso lado sem se importar com o que virá.
Aceitar caminhar na chuva é uma escolha pela verdade, pela profundidade e pela presença real do outro. Calligaris nos convida a repensar: da próxima vez que alguém estiver ao seu lado, mesmo nas chuvas da vida, talvez valha a pena abrir mão da resistência e viver esse momento, deixando-se molhar. Porque, às vezes, são justamente essas chuvas que regam os vínculos mais autênticos, as lembranças mais intensas e as relações que realmente importam.
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