Há feridas que se escondem sob a pele, em silêncio. Elas não gritam, não sangram visivelmente, mas latejam em cada palavra dita, em cada olhar desviado. Feridas, sejam abertas ou cicatrizadas, moldam nossa forma de enxergar o mundo e, muitas vezes, de ferir ou curar o outro.
Aqueles que carregam cicatrizes malcuidadas andam pelo mundo como se a dor fosse um espinho sempre cravado no peito. Eles tentam sorrir, ser fortes, mas, sem perceber, seus gestos cortam, suas palavras machucam. Não é maldade, não é intenção. É o reflexo da própria dor, que, sem espaço para sair, se projeta no outro. Feridos, eles ferem. A mágoa se instala, como uma tempestade que insiste em não passar.
Por outro lado, quem já enfrentou o vendaval e, com paciência, colheu os cacos de si, encontra a beleza no remendo. Pessoas curadas conhecem o valor da compaixão, porque um dia precisaram de mãos estendidas. Curaram-se, não porque esqueceram a dor, mas porque aprenderam a dançar com ela, a transformá-la em sabedoria. E agora, em cada toque, há leveza; em cada palavra, há um sopro de cura.
É um ciclo. A vida nos dá a chance de escolher: ou repetimos a dor, ou a transformamos em amor. As feridas podem ser lanças ou pontes. E quem se cura, aprende a ser ponte, a construir caminhos para que outros também possam atravessar o abismo da dor.
Não é fácil, e talvez nunca seja. Mas cada um de nós carrega, no fundo, a escolha de ser cura. Porque quando a tempestade se acalma, não importa quanto tenha doído, o céu volta a brilhar. E quem já viu o sol nascer depois de uma longa noite, sabe que a luz, uma vez sentida, sempre ilumina o caminho dos outros.
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