Nunca vi um genitor reclamando de cansaço pela paternidade.
Aliás, raramente vemos um homem ser questionado sobre como concilia trabalho e filhos.
Essa cobrança parece ter destinatário único: a mãe.
Ela sim carrega o título de multitarefa como se fosse medalha – quando, na verdade, é cicatriz.
Ela trabalha fora, cuida da casa, participa das reuniões da escola, leva ao médico, acorda de madrugada, compra presente de aniversário do coleguinha da escola e ainda precisa lembrar de sorrir – porque, afinal, “é dom ser mãe”.
Enquanto isso, o pai aparece no sábado com um presente e um post no Instagram.
Tira uma foto bonita com legenda emocionada, e ganha curtidas, elogios e o rótulo de “pai presente”.
Presente?
Presente em que sentido? No sentido de estar fisicamente a cada quinze dias ou no sentido de ser presente como verbo, como afeto, como responsabilidade diária?
A verdade é que ainda existe um abismo entre a maternidade vivida e a paternidade romantizada.
A mãe é cobrada por tudo.
O pai, elogiado por quase nada.
A mãe chega ao limite e ainda perguntam se está sendo grata o suficiente.
O pai aparece no Dia dos Pais com um tênis novo pro filho e recebe aplausos como se tivesse inventado a infância.
Ser pai não é luxo, não é heroísmo, não é favor.
É dever. É vínculo. É constância.
Não é sobre finais de semana no parque. É sobre segundas-feiras difíceis também.
É sobre saber qual remédio o filho toma. Qual é o nome da professora.
É sobre ouvir, acolher, cuidar – todos os dias.
A paternidade que se limita ao final de semana e à selfie bonitinha não forma laço.
Forma lacuna.
E no fim, quem carrega as dores emocionais, o peso do abandono afetivo e o trauma do descaso, não é quem some.
É quem fica.
E, mais ainda: é quem cresce sem referência.
Chega de premiar homem por fazer o mínimo.
Pai de verdade não posa pra foto.
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