A tristeza não se anuncia. Não chega com trovão nem com choro aberto na janela da alma. Ela prefere a dissimulação. Se esconde sob a pele, fina e invisível, como um inquilino corrupto que insiste em morar onde não foi convidado. Não paga aluguel, não ajuda nas contas da vida, mas ocupa espaço, suga o ar, enfraquece a luz.
O pior é que ela não faz escândalo. Não grita, não derruba copos, não quebra portas. Ela apenas existe. E essa existência muda é o que mais incomoda. Porque, quando algo explode, você ao menos reconhece o estrondo. Mas quando a tristeza silencia, ela se infiltra. Passa a dividir o travesseiro, a sentar-se à mesa, a se deitar no sofá durante as tardes sem cor.
E então, sem perceber, você aprende a conviver com ela. Aprende a tomar café da manhã com um nó no peito, como se fosse normal. Aprende a sorrir com os olhos marejados, como se fosse parte da rotina. Aprende a carregar um peso invisível, como se ele fosse apenas mais um acessório da existência.
O perigo da tristeza não é quando ela dói demais. O perigo é quando ela deixa de doer, e se transforma em hábito. Quando você para de lutar contra ela e a trata como velha conhecida. Quando o nó no peito deixa de incomodar, porque já se acostumou a estar ali.
Mas a verdade é que nenhuma tristeza foi feita para ser eterna. Nenhum inquilino abusado merece permanecer. E chega um dia em que a gente precisa ter coragem de bater à porta, abrir a janela e gritar: “Aqui não é mais o seu lugar.”
Porque a vida, mesmo nos dias mais sombrios, ainda guarda uma fresta de sol. Basta lembrar que não é normal dividir a mesa com aquilo que nos rouba a fome de viver.
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