Tem gente que confunde ferida com mágoa mal resolvida. Que veste o papel de vítima tão apertado no corpo que não percebe quando vira algoz. Que usa um filho como escudo, como moeda, como punição. Que, por ter tido um relacionamento que afundou, acha justo afundar também o afeto entre pai e filho. Ou entre mãe e filho, porque o veneno não tem gênero — tem intenção.
Separação é triste, sim. Dói, abala estruturas, derruba planos. Mas não é justificativa pra envenenar laços. É preciso saber separar o que é dor de adulto e o que é direito da criança. A criança tem o direito de amar os dois. Tem o direito de construir sua própria história com cada um, sem interferência, sem distorção, sem manipulação.
Quem coloca o filho contra o outro só porque o amor deu errado, não está ferida — está mal resolvida. E gente mal resolvida não cura, contamina. Implanta desconfiança, semeia dúvidas, alimenta uma raiva que não nasceu na criança, mas que ela aprende a carregar. E carregar o ódio dos pais é um fardo pesado demais pra ombrinho pequeno.
Pior ainda é que, um dia, esse filho cresce. E entende. E cobra. E pergunta. E, às vezes, se afasta. Porque quem planta ressentimento, colhe solidão. Quem usa o filho pra ferir, acaba ferindo a si mesmo.
É preciso maturidade pra entender que um ex não deixa de ser pai ou mãe só porque não deu certo como cônjuge. É preciso grandeza pra deixar o filho amar livremente. Porque amor não é prêmio de fidelidade. Amor é direito de nascimento.
E no fim, quem realmente ama o filho, escolhe o caminho mais difícil — o de não despejar a dor no colo dele. Porque machucar o laço mais puro que existe só pra ferir o outro… não é só feio. É desumano.
Receba outras colunas direto em seu WhatsApp. Clique aqui.