Sempre me intrigou a ideia de que as relações, para serem verdadeiras, precisam ser sem barreiras. "Amor sem limites" é um dos clichês mais vendidos por aí, como se a proximidade só fosse autêntica quando não houvesse distinção entre um e outro. Mas a verdade é que, sem limites, o que deveria ser um abraço confortável vira aperto. Sem limites, o que deveria ser carinho vira sufoco.
Limite não é muro, não é cerca elétrica. Limite é um jardim bem cuidado, com uma cerquinha baixinha e simpática, que diz: "Aqui é meu espaço." Não é sobre afastar, mas sobre se proteger. Porque, ao contrário do que dizem, relações saudáveis não são aquelas em que tudo é permitido, mas aquelas onde o respeito é a base. Onde há cuidado em não pisar no terreno alheio sem convite.
Tem gente que acha que colocar limites é afastar o outro, mas é exatamente o oposto: é preservar a saúde do encontro. É dizer "não" quando necessário, é saber onde termina o eu e começa o você. É entender que, por mais que amemos, há partes de nós que são intransferíveis. Não porque não queremos compartilhar, mas porque são a essência de quem somos.
Relacionamentos, sejam eles de amor, amizade ou trabalho, só florescem quando ambos sabem até onde podem ir. Quando você diz: “Isso me machuca” e o outro ouve, acolhe e respeita. Quando você aprende a dizer: “Eu preciso de espaço” sem sentir culpa, e o outro entende que espaço não é distância, mas necessidade de respirar para continuar.
E é engraçado como, muitas vezes, a dificuldade de impor limites vem da crença de que isso vai afastar o outro. Como se respeitar a si mesmo fosse um ato de desamor pelo outro. Quando, na verdade, é o maior gesto de carinho. Porque se você não se respeita, como pode esperar que o outro o faça?
Limites claros são como placas de sinalização numa estrada: evitam colisões, indicam caminhos e tornam a jornada mais segura para todos. Não é sobre erguer paredes, mas sobre desenhar fronteiras onde o afeto possa circular sem riscos. Onde o "não" é tão bem-vindo quanto o "sim", e onde o diálogo substitui o ressentimento.
Por isso, se você quer uma relação saudável, aprenda a colocar seus limites na mesa. Não como uma lista de exigências, mas como um mapa de navegação para que o outro possa te encontrar sem se perder. E tenha a humildade de respeitar os limites alheios também. Porque, no fim das contas, os relacionamentos mais bonitos são aqueles onde cada um sabe exatamente onde o outro começa e termina. Onde o amor é livre, mas não invasivo. Onde o respeito é a regra, e a convivência, um prazer.
Receba outras colunas pelo WhatsApp. Clique aqui e entre no grupo do Sul Agora.