Falar de estupro é rasgar um véu pesado. É mexer numa ferida que a sociedade insiste em cobrir com silêncio, desconfiança e preconceito. E, no meio desse cenário, há uma mentira que precisa ser desmascarada: a ideia de que mulheres inventam estupros.
A verdade — crua, incômoda, mas necessária — é que há muito mais mulheres escondendo estupros do que inventando que foram estupradas.
Escondem porque têm medo.
Porque sabem que, ao falar, serão julgadas antes de serem ouvidas.
Porque conhecem a engrenagem perversa que costuma funcionar a favor do agressor e contra a vítima.
A mulher que decide contar que foi estuprada precisa, antes, estar disposta a enfrentar uma maratona de perguntas que não deveriam existir: “Mas você tinha bebido?” “Você não provocou?” “Tem certeza que não foi consensual?” “Você não se arrependeu e agora quer se vingar?”
Ela sabe que, ao denunciar, seu passado será vasculhado. Suas roupas serão analisadas. Seu comportamento será dissecado. E sua dor será colocada sob suspeita.
Então, muitas se calam.
Guardam o estupro em gavetas fundas da memória, trancam com cadeado e tentam seguir. Com a alma rasgada e o corpo marcado, mas com a esperança de que o silêncio doa menos que o julgamento.
Enquanto isso, do lado de fora, ecoa a velha falácia de que “mulher inventa estupro para se vingar”. É conveniente acreditar nisso. É mais fácil deslegitimar a vítima do que encarar o fato de que vivemos em uma sociedade que ainda naturaliza a violência contra o corpo feminino.
Mas eu te digo:
Para cada história inventada — que é rara e estatisticamente irrelevante — existem milhares de relatos engolidos. Histórias que nunca chegarão às delegacias. Vidas que carregam o peso de uma violência que nunca foi reparada.
É hora de inverter a lógica.
De ouvir antes de julgar.
De acolher antes de duvidar.
Porque o medo de não ser acreditada adoece tanto quanto o trauma.
Porque uma mulher que denuncia estupro não quer vingança.
Quer justiça. Quer paz. Quer a liberdade de viver sem o peso de um segredo que nunca deveria ter existido.
Acredite em mulheres.
Acolha mulheres.
Proteja mulheres.
Receba outras notícias pelo WhatsApp. Clique aqui e entre no grupo do Sul Agora.