Li a frase e estranhei: “Adore-se magra: muito além do corpo”. Ela ficou rondando o pensamento como fazem as frases que provocam, mas não se explicam de imediato.
De um lado, soa contraditória. Afinal, não temos repetido — com tanta ênfase e carinho — que devemos nos amar do jeito que somos? Que autoaceitação não depende de um número na balança, de um manequim ou de um reflexo no espelho? Que a vida é mais do que centímetros e calorias contadas?
Mas talvez, antes de julgar as palavras, seja bom escutar o que elas querem dizer. Talvez esse “magra” não seja apenas sobre o corpo. Talvez seja uma metáfora disfarçada, pedindo que a gente se adore leve. Leve de excessos que nos pesam mais que qualquer gordura — culpas antigas, cobranças desmedidas, expectativas alheias.
Adorar-se magra pode ser, quem sabe, adorar-se esvaziada de comparações e autocríticas que só servem para minar a autoestima. Pode ser um convite para deixar pelo caminho o peso de tentar caber em moldes que não nos pertencem.
Porque muito além do corpo, o que realmente sobrecarrega é a alma cheia de “tenho que”, “preciso ser”, “esperam de mim”. Magreza, nesse sentido, seria mais sinônimo de liberdade do que de aparência.
É claro que precisamos ter cuidado com as palavras. Elas moldam pensamentos e, muitas vezes, reforçam padrões dos quais lutamos tanto para nos libertar. Mas também é verdade que podemos ressignificá-las. Podemos olhar além da superfície e extrair o que faz sentido para nossa jornada.
Adore-se magra, sim — magra de amarras, de cobranças, de pesos invisíveis. Adore-se plena, inteira, leve de dentro para fora. Porque o corpo, esse muda. A alma leve, essa permanece.
No fim das contas, o mais importante não é a gramática do corpo — é a poesia de se sentir bem na própria pele. Magra ou não.
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