Nem sempre a dor mora naquilo que foi dito — às vezes, ela se instala justamente no que não foi. No que ficou atravessado, mal interpretado, não esclarecido. O mal-entendido é sutil: começa pequeno, quase imperceptível. Uma mensagem sem resposta, um tom mal lido, um gesto mal compreendido. E, sem perceber, duas pessoas que antes se tinham na palma da mão passam a tropeçar uma na outra como desconhecidas.
É que o mal-entendido não precisa de gritos, nem de briga. Ele só precisa de silêncio. De um orgulho aqui, um “não vou me explicar” ali, um “se quiser, que venha”. E assim se constrói a muralha. Tijolo por tijolo. Um “achei que você sabia”, um “pensei que você tivesse entendido”. Mas não, ninguém entendeu nada. E ninguém perguntou também.
É tão humano se equivocar… mas é igualmente humano tentar consertar. O problema é que, na maioria das vezes, ninguém quer dar o braço a torcer. Porque achamos que se explicando demais, a gente perde valor. Que pedir desculpa é se rebaixar. Que perguntar “você ficou chateado com algo?” é demonstrar fraqueza. E nessa guerra de silêncios, perde-se afeto, confiança e às vezes até a própria relação.
A maior distância entre duas pessoas não é o fim do amor. É o acúmulo de coisas não ditas. É quando a mágoa cresce no espaço que o diálogo não ocupou. É quando cada um cria uma versão da história — e nela, o outro é sempre o culpado.
Por isso, se algo ficou mal resolvido, pergunte. Esclareça. Dê espaço para o outro se explicar. Porque às vezes, basta uma conversa sincera para salvar um laço. Às vezes, bastava ter dito: “não foi isso que eu quis dizer” ou “posso te contar como me senti?”.
As relações mais fortes não são as que nunca enfrentam ruídos. São as que têm coragem de limpar os mal-entendidos antes que eles virem abismos.
Receba outras colunas direto em seu WhatsApp. Clique aqui.