Vivemos em um tempo curioso: o corpo humano virou mercado, e a dor, mercadoria.
A farmácia já não é apenas um lugar de alívio, mas também um balcão de negócios. Quanto mais longa for a enfermidade, mais fiel será o cliente. A saúde, paradoxalmente, deixou de ser prioridade: o que dá lucro não é a alta, mas a internação; não é a recuperação, mas a manutenção.
É como se a humanidade tivesse sido condenada a viver eternamente em “tratamento”. Uma consulta aqui, uma pílula ali, um exame desnecessário acolá. Cada etapa com recibo, cada lágrima com código de barras. Enquanto isso, a cura, essa palavra que soa quase milagrosa, vai ficando para segundo plano, esquecida no fundo de uma prateleira empoeirada.
A pergunta que ecoa é cruel: quem ganharia com um mundo saudável? Talvez ninguém. E é justamente aí que mora a ironia. A saúde plena não gera dividendos, não movimenta estoques, não patrocina congressos. A saúde é silêncio — e silêncio não vende.
Então seguimos, humanidade inteira, reféns de um tratamento eterno, carregando receitas como se fossem grilhões, celebrando pequenas melhoras como se fossem libertações. Mas no fundo, sabemos: ainda não estamos em recuperação. Estamos em manutenção, sustentando uma engrenagem que prefere a febre ao alívio, a doença à cura.
Um dia, talvez, a lógica mude. Talvez alguém perceba que lucro mesmo é ver a vida florescer inteira, e não apenas sobreviver entre comprimidos. Até lá, seguimos nessa fila sem fim, esperando que o caixa da farmácia nos entregue não só remédios, mas também esperança.
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