Em uma cidade marcada por tradições, surge uma mulher que desafia o status quo. Maristela da Silva Francisco, policial dedicada, foi a única mulher a se candidatar à prefeitura de Tubarão. Sua trajetória na última eleição carrega não apenas o peso das escolhas políticas, mas também o fardo de um preconceito silencioso, mas devastador: o de mulheres que, por uma razão ou outra, ainda hesitam em confiar nas próprias iguais para liderá-las.
Maristela, com sua farda e sua postura firme, carrega em si o símbolo da proteção, da justiça. Ela conhece de perto a luta, não apenas nas ruas, mas nos bastidores de uma sociedade que nem sempre reconhece a competência feminina em cargos de poder. Sua coragem não está apenas no ato de se colocar como candidata — essa foi apenas a ponta do iceberg. Sua verdadeira bravura reside em enfrentar o preconceito enraizado, o olhar desconfiado de quem, por séculos, foi levado a crer que a liderança pertence a homens.
Naquele momento em que ela decidiu concorrer, Maristela sabia que o caminho seria tortuoso. Não bastava a sua experiência como policial, a sua inteligência ou o seu desejo genuíno de mudança. O que pesava contra ela não era somente a escolha de um partido político como o PT — que, por si só, traz consigo opiniões fortes —, mas algo ainda mais profundo: a crença de que uma mulher não poderia conduzir os rumos da cidade. E o mais doloroso é saber que muitas dessas vozes vieram de outras mulheres.
Esse é o grande dilema que Maristela enfrentou. Ela se levantou como símbolo de uma nova era, mas foi esbarrando em muros que ainda se erguem dentro da mente de tantas. Mulheres que, talvez sem perceber, ainda internalizam a ideia de que o poder não lhes pertence. E é esse o preconceito mais cruel: aquele que nasce dentro do próprio gênero, o que recusa a ideia de que uma mulher pode ser líder, estrategista, articuladora de uma cidade.
Ainda assim, Maristela não perdeu. Sua coragem em colocar seu nome à disposição já é, por si só, uma vitória. Ela pavimentou um caminho. Cada passo que deu nessa eleição deixou marcas profundas, não apenas no cenário político, mas no imaginário de outras mulheres. Aquela que ousou acreditar em si mesma, que se viu capaz de transformar Tubarão, plantou uma semente.
E, quem sabe, um dia as mulheres de nossa cidade perceberão que, quando uma de nós se levanta, todas se levantam juntas. Maristela não venceu as urnas, mas venceu o medo, a resistência, e, de alguma forma, já começou a transformar Tubarão — com a força silenciosa da coragem e a visão de quem acredita que a liderança pode, e deve, ser compartilhada por todos.
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