Viver sob o olhar do outro é como andar numa corda bamba. A cada passo, tentamos nos equilibrar entre a sedução e a autenticidade, entre o que querem que sejamos e o que realmente somos. O problema é que essa linha é fina, quase invisível. E quanto mais nos damos conta de que estamos sendo observadas, mais difícil fica caminhar sem tropeçar nas expectativas.
A sedução, dizem, é natural. Um charme aqui, um sorriso a mais ali. Mas será que é mesmo? Ou será que fomos treinadas, desde sempre, a nos polir conforme o reflexo do olhar alheio? Moldadas para agradar, para atrair, para sermos o que o outro deseja, sem nunca nos perguntarmos se isso realmente nos representa. Não é que a sedução seja falsa, mas é como um perfume: vai se dissolvendo no ar até que nos perdemos na fragrância, sem saber mais o que é essência e o que é artifício.
E aí entra a autenticidade, esse conceito que parece tão bonito no papel, mas que na prática é muito mais difícil de sustentar. Ser autêntica, num mundo que nos quer lapidadas e perfeitas, é quase um ato de rebeldia. É resistir ao desejo de ser aceita a qualquer custo, mesmo que isso signifique desagradar, decepcionar, ser invisível.
Mas quem nunca dobrou a autenticidade para caber na expectativa do outro? Quem nunca suavizou uma opinião, ajustou um comportamento, fez de conta que não se importava só para manter o encanto? A linha entre sedução e autenticidade é tão tênue que, às vezes, nem percebemos quando a cruzamos. Seduzir é ser visto, é ser desejado, é ter importância. Mas e a autenticidade? Ela nos dá o quê? Talvez a solidão, talvez o isolamento, porque ser autêntico é correr o risco de não agradar. E quem está preparado para esse tipo de rejeição?
O fato é que, quando nossa existência se torna um reflexo do olhar alheio, viver autenticamente parece um luxo. Um luxo que poucas se permitem. Mas se forçarmos demais a sedução, nos distanciamos de nós mesmas, como se estivéssemos o tempo todo nos vendo através de um espelho quebrado. A imagem que devolvemos ao outro é distorcida, fragmentada, mas mesmo assim continuamos a insistir.
A linha entre ser autêntico e seduzir é uma armadilha. Porque quanto mais nos esforçamos para sermos vistas, mais nos afastamos de quem realmente somos. A autenticidade, nesse caso, não é um dom, mas uma luta. E a sedução? Não é natural, mas uma construção — algo que foi ensinado e que, sem perceber, incorporamos.
No fim, a linha entre a sedução e a autenticidade não é apenas tênue, é um campo de batalha. Um lugar onde nos dividimos entre o desejo de sermos aceitas e o medo de nos perdermos. E nesse campo, quem nunca sentiu que se afastou de si mesma só para agradar o outro?
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