Logo de cara, uma reclamação: essa mania das distribuidoras brasileiras de alterarem o título original dos filmes tem que acabar! Falo isso porque o simples fato de terem removido o artigo para o título no Brasil do novo longa do Homem-Morcego tira também o principal diferencial que esta produção do personagem traz em relação às anteriores: este é um filme DO Batman. Não é dos vilões, não é dos coadjuvantes, é um filme DO Batman. Por isso, chamar Batman (The Batman, Warner Bros./DC, EUA, 2022) simplesmente de Batman é um erro grave! Deveria sim ser O Batman, como tem que ser!
NÃO É PARA CRIANÇA
Reclamação feita, vamos ao que interessa. E, tirando o sofá da sala logo de cara, nem pense em levar filhos, sobrinhos, irmãos, caso estes tenham menos de 14, 15 anos. No mínimo. E não por causa da violência, que até existe no filme, mas principalmente pelos temas abordados, os assuntos sugestionados, e a ambientação como um todo. É um filme adulto. Com a complexidade que se espera de um filme adulto. Desde sua história até sua execução.
De longe, este Batman entrega ao espectador o mais realista, cru, perturbado, obsessivo e raivoso Homem-Morcego jamais visto no cinema. Sim, Batman está com raiva. Muita raiva. Isto se deve, claro, ao fato de que, aqui, temos um Cavaleiro das Trevas com apenas dois anos de combate ao crime, o que, automaticamente, mostra-nos um Bruce Wayne ainda muito atormentado pela tragédia por ele vivida, o que faz com que o herói cometa erros bobos, até, se o compararmos às tradicionais encarnações que o personagem já teve, em especial a última, com Ben Affleck, que trazia um Batman já mais velho e calejado.
É importante ter isto em mente ao assistir esta nova produção. Este Batman ainda está verde, por assim dizer. E isso vale não só para seus métodos de combate ao crime, quanto às suas emoções, principalmente.
ELENCO DE PESO
Com este retrato do personagem-título explicado, chegamos ao ponto em que temos que exaltar o trabalho de casting da produção, capitaneado pelo diretor Matt Reeves. E sim, sei que você está se perguntando… Robert Pattinson simplesmente ARREBENTA! É sim, dentro da proposta da trama, o melhor Batman do cinema até aqui. Que me perdoem Bale e Affleck, mas o vampirinho que brilha faz exatamente isso ao assumir o manto do morcego: brilha! Seu Bruce Wayne é perturbado, psicótico, soturno, e seu Batman pega essas características e as eleva à décima potência, trazendo à vida um vigilante problemático e ao mesmo tempo fascinante, extramente bem encaixado em uma Gotham City que chega a exalar mau cheiro, de tão podre que é retratada na produção.
Podre na essência, podre em seus poderes, podre em sua alma. É extramente crível que, em uma cidade estragada como esta, exista sim um sujeito que usa a imagem de uma criatura sobrenatural para trazer o medo ao crime, em uma atmosfera de filme noir dos anos 20 e 30, perfeita para outra face do personagem que, até aqui, pouco foi vista na telona: a de maior detetive do mundo.
Poucos sabem, mas Batman também é assim conhecido, já que sua mente lhe permite desvendar mistérios e tramas que mais ninguém consegue. E, para enfrentar as artimanhas do Charada, magistralmente interpretado por Paul Dano, louco e genial fantasticamente equilibrado, só mesmo o maior dos detetives.
Neste caminho, conhecemos ainda Selina Kyle, e,claro, seu alter ego, a Mulher-Gato. E, de novo pedindo desculpas, desta vez à Michelle Pfeiffer, a performance de Zoë Kravitz é sensacional, com uma ladra, e por vezes par romântico de Batman, deslumbrante, e, ao mesmo tempo, forte e emotiva, com uma pesada carga dramática. Está ótima no papel!
E o que dizer de Colin Farrell e seu Pinguim, irreconhecível em virtude da maquiagem, mas não pelo seu talento, pois ao contrário do caricato (e também ótimo, diga-se!) Danny DeVito de Batman – O Retorno, de 1992, última aparição do personagem no cinema, este Osvald Cobblepott tem sim cicatrizes, o rosto deformado, mas em um tom realista, sem escamas ou nariz de ave, mas ainda assim um gângster da melhor estirpe, não completamente formado, ressalta-se, mas já mostrando as nuances daquele que se tornará um dos maiores inimigos do Homem-Morcego.
Completando o elenco escolhido a dedo, temos Andy Serkis como Alfred, papel fundamental mas que aqui não tem o espaço necessário – até porque, como já citado, este é um filme do Batman, é ele quem brilha aqui, com menos Bruce Wayne em tela, e, por consequência, menos Alfred. Mas, ainda assim, sua presença é marcante. Junto a ele, John Turturro como Carmine Falcone, e, claro Jeffrey Wright, como o tenente James Gordon, dão o suporte necessário para o andamento da trama e seus protagonistas.
TÉCNICA IMPECÁVEL
Já comentei sobre a ambientação criada para a Gotham City deste longa, que realmente chama a atenção. No entanto, temos que ressaltar, da mesma forma, a excepcional fotografia da produção, que abusa das sombras, da iluminação enfraquecida que nada adianta na penumbra, aliada ao design de produção dos cenários e a forma de filmar de Reeves, com enfoque nos olhos dos personagens, em especial de Batman, chama a atenção, pois Pattinson entrega em sua atuação o olhar necessário para se comunicar através destas tomadas.
Claro, não poderia deixar de citar a trilha sonora, de autoria e condução de Michael Giacchino, que além de belíssima tem uma força impactante, com tons graves e poderosos que casam perfeitamente com as cenas e ações de Batman na trama.
SERVIÇO
Com concorridas pré-estreias ao redor do mundo neste início de semana, Batman (2022) entra em cartaz nesta quarta-feira (2) no Brasil. E antes de passar o serviço do longa, vale uma ressalva.
Não espere conexões deste filme com o confuso Universo Cinematográfico da DC. Não tem nada a ver. Em tempo, não espere nenhuma conexão deste Batman com o Coringa de Joaquim Phoenix. As cidades de Gotham nos dois filmes até são parecidas, mas não existe a possibilidade de ligação entre os dois universos.
Portanto, e não é spoiler, já que foi anunciado de maneira prévia (apesar de poucos acreditarem), este Batman caminha em seu próprio universo, sua própria realidade, realidade esta que, se você ficar atento ao finalzinho do filme, traz pistas do que espera nosso Bat-Pattinson em suas próximas aventuras. Ah, o filme é grande, com 2h57min de duração. Mas que passam sem o espectador sentir, acredite.
Isto posto, corra pro cinema mais próximo a partir desta quarta-feira, pois Batman (2022) é sim tudo aquilo que se esperava, talvez até mais. Imperdível!!
O filme estreia no Cine Show do Farol Shopping com sessões às 14 horas,16h50, 17h20, 19h50 e 20h40, todas dubladas, em salas diversas, e ainda uma sessão com cópia legendada às 20h10. Esta programação é válida para a primeira semana de exibição. Bom filme!