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BLOGS E COLUNAS

Quando a presença era a mensagem

19/06/2025 09h15

Na minha infância, na comunidade de Canela Grande, conversar com alguém de fora da casa só acontecia mesmo quando a gente se encontrava. Não havia telefone — ninguém tinha. Se quiséssemos falar com alguém distante, era por carta. E, ainda assim, era preciso caminhar mais de dez quilômetros até a agência dos Correios, que ficava na “praça” de Pedras Grandes. Depois, restava esperar semanas — às vezes, meses — por uma resposta que, quase sempre, nem chegava.

Aos domingos, as casas da comunidade seguiam um ritual quase sagrado. As mulheres enceravam com capricho o assoalho pintado de amarelo, sovavam pães, fritavam cavaquinhos e deixavam a chaleira no fogo — aquecendo devagar sobre a chapa do fogão a lenha. Tudo isso porque, nos fins de semana, era comum receber visitas: parentes de longe, amigos antigos, vizinhos que surgiam de surpresa. Ninguém avisava — mas todos eram bem-vindos.

Como não havia outro modo de anunciar a chegada senão estar ali — corpo presente —, as famílias se preparavam para a possibilidade da visita com alegria.

Quando o cachorro latia,
o portão rangia
e as palmas batiam no terreiro,
o coração já sabia: era visita.

E ninguém se espantava. A casa estava pronta. Água quente para coar o café, mesa posta, afeto em estado de espera.

Hoje, tudo isso soa como memória de séculos passados. Os meios de comunicação encurtaram distâncias, mas afastaram presenças. Estamos tão próximos e conectados que perdemos o hábito de fazer e receber visitas. Chegar à casa de alguém sem avisar virou invasão — um gesto quase ofensivo, sinal de descompasso com o tempo.

Trocamos o susto bom da chegada pelo aviso protocolar — e fechamos o coração para o que não se anuncia.

Não serei hipócrita em dizer que gosto de receber pessoas que aparecem de surpresa na minha casa. Também sou constantemente moldado pelos hábitos dos tempos modernos.

Mas, relembrando minha infância, não posso negar: havia algo de bonito e mágico naquele tempo em que a visita era um acontecimento — e a presença, por si só, uma mensagem inteira.


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MACIEL BROGNOLI
Crônicas e contos
Maciel Brognoli é guarda municipal de Tubarão, graduado em Administração Pública, especialista em Segurança Pública e Gestão de Trânsito e escritor. Ocupa a cadeira n° 27 da Academia Tubaronense de Letras (Acatul) e escreveu quatro livros.
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